A presidente dos
Focolares Maria Voce participa, nas Nações Unidas, do Debate temático de
alto nível “Promover a tolerância e a reconciliação”.
Arriscar a própria vida para aliviar o sofrimento dos pobres: Maria
Voce inicia, narrando sobre a fase final da Segunda Guerra Mundial,
quando em Trento, no ano de 1943 «um grupo de moças se reúne na pequena
cidade de Trento, na Itália setentrional. Em meio às bombas, essas
jovens, lideradas por uma jovem professora, Chiara Lubich, motivadas por
uma renovada compreensão do radicalismo do amor evangélico, decidem
arriscar a própria vida para aliviar o sofrimento dos pobres».
Um gesto repetido ainda hoje por muitas pessoas para que se regenere o tecido social:
Maria Voce recorda os campos de refugiados no Líbano, na Síria, na
Jordânia, no Iraque, as periferias degradadas das megalópoles, e a força
e o potencial de todos os que fomentam, “no circuito destrutivo do
conflito, o empenho para que se regenere o tecido social, realizando –
para usar a linguagem desta organização – uma ação de peace-building».
Aquelas jovens, afirma, «decidiram romper o círculo vicioso da
violência, respondendo com gestos e ações que, no clima do conflito,
poderiam parecer utópicos ou até mesmo irrelevantes. Mas não foi o que
aconteceu, e não é assim!».
«Também hoje, nos encontramos numa gravíssima situação de desagregação política,
institucional, econômica e social, que também exige respostas radicais,
capazes de mudar o paradigma prevalente. De fato, o conflito e a
violência parecem dominar amplas áreas do planeta, envolvendo pessoas
inocentes, consideradas culpadas por se encontrarem em um território
disputado, por pertencerem a um determinado grupo étnico ou professarem
uma religião em particular».
A presidente dos Focolares não hesita: «Se
existe um extremismo da violência, – afirma – devemos responder a isso
(…) com o mesmo radicalismo, porém de maneira completamente diferente,
ou seja, com o «extremismo do diálogo»! Um diálogo que requer a
máxima abrangência, que é arriscado, exigente, desafiador, que visa
arrancar as raízes da incompreensão, do medo e do ressentimento».
Civilização da aliança: citando
a iniciativa da «Aliança das Civilizações», um dos promotores do
evento, Maria Voce questiona «se hoje não se torna ainda mais necessário
aprofundar a raiz dessa nova perspectiva, tendo como objetivo não só
uma aliança das civilizações, mas aquela que poderíamos chamar de
“civilização da aliança”; uma civilização universal, e isso significa
que as pessoas consideram-se parte da grande história, plural e
fascinante, do caminho da humanidade rumo à unidade. Uma civilização que
faz do diálogo a estrada na qual todos se reconhecem livres, iguais,
irmãos».
Entre as muitas organizações representadas, menciona a ONG New Humanity, que representa na ONU o Movimento dos Focolares. E se pergunta:
«A ONU não deveria reconsiderar a sua vocação,
reformular a sua missão fundamental? O que significa ser, hoje, a
organização das “Nações Unidas”, uma instituição que realmente
desempenha a sua função de trabalhar pela unidade das nações,
no respeito às suas riquíssimas identidades? Sem dúvida, é fundamental
trabalhar pela manutenção da segurança internacional, mas a segurança,
embora indispensável, não equivale necessariamente à paz. Os conflitos
internos e internacionais, as profundas divisões registradas em escala
mundial, junto com as grandes injustiças locais e planetárias, exigem
uma verdadeira conversão nos atos e nas escolhas da governança global,
que realize o slogan criado por Chiara Lubich, e lançado aqui em 1997,
“amar a pátria alheia como a própria”, a ponto de edificar a
fraternidade universal».
A guerra é a irreligião: «Finalmente,
não devemos dar espaço àqueles que tentam representar muitos dos
conflitos em curso como “guerras de religião”. A guerra é, por
definição, a irreligião. O militarismo, a hegemonia econômica, a
intolerância em todos os níveis, unidos a muitos outros fatores sociais
e culturais, dos quais a religião constitui apenas um trágico pretexto,
são, muitas vezes causas de conflito. Aquilo a que assistimos, em
muitas áreas do planeta, do Oriente Médio à África, tal como a tragédia
de centenas de mortos que fogem da guerra e naufragam no Mediterrâneo,
tem pouco a ver com a religião. De todos os pontos de vista, nesses
casos, devemos falar não tanto de guerras de religião, mas,
concretamente, de forma realista e prosaica, de religião de guerra».
O que fazer? Citando
Chiara Lubich, incentiva a ter coragem de “inventar a paz”: «São muitos
os sinais, para que, da grave conjuntura internacional, possa
finalmente emergir uma nova consciência da necessidade de trabalhar
juntos pelo bem comum (…) com a coragem de “inventar a paz”. O tempo das
“guerras santas” acabou. A guerra não é mais santa, e nunca foi. Deus
não quer a guerra. Somente a paz é realmente santa, porque o próprio
Deus é a paz».
Conclui evocando a regra de ouro,
que reporta à inspiração fundamental que aproxima as religiões, para que
não sejam «um instrumento utilizado por outros poderes, ainda que para
fins nobilíssimos, nem mesmo uma fórmula arquitetada para resolver os
conflitos ou crises, mas um processo espiritual que se concretiza e se
torna uma comunidade que compartilha e dá sentido à alegria e ao
sofrimento dos homens, conduzindo tudo para a realização da única
família humana universal».
Nova Iorque – Sede da ONU, 22 de abril de 2015
Debate temático de alto nível Promover a tolerância e a reconciliação
Fonte: Site Focolare
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