Prof. Schutz abordou "Religião e Direitos Humanos" em aula magna (Foto Malu Marcoccia) |
Quando se olha a religião apenas pela lente da inspiração
divina, o mundo que se vê é um reflexo alterado por esse dogmatismo. A
religião deve ser entendida como expressão humana. Como tal, deve buscar
a humanização em suas relações.
“O religioso tenta justificar seus atos dizendo-se inspirado pelo
Divino. Em nome da religião, assistimos tantos flagrantes de agressão e
de solapamento dos direitos humanos”, afirmou professor Jorge Schutz
Dias na aula magna de Integralização de Créditos EAD da Faculdade de
Teologia, na tarde de 6 de fevereiro.
Ele abordou o tema da “Religião e Direitos Humanos” e exemplificou
com comunidades religiosas intolerantes à questão de gênero e
sexualidade, que defendem aumento da punição a presidiários e mesmo a
pena de morte, enquanto outras desqualificam religiões visando somente
ao expansionismo territorial. Até a mutilação genital feminina, que
aleija 150 milhões de mulheres no mundo, é feita em nome da religião.
“É difícil tratar de direitos humanos nas comunidades de fé quando
dentro da própria religião há ações de violência, seja física, pela
dominação por imposição, seja simbólica, ao se destruir imagens que
exprimem uma crença”, disse o palestrante, enfatizando que o compromisso
básico da igreja deve ser com a preservação da vida. E vida, a seu ver,
passa pelo livre arbítrio.
Liberdade, base dos direitos
Professor Schutz buscou na história passagens como da Revolução
Francesa, que resultou na Carta Magna do país em 1971, para sublinhar os
pilares dos direitos do homem. Aquela Constituição já contemplava a
liberdade, a segurança, o direito à propriedade e a resistência à
opressão, todos de inspiração religiosa e que mais tarde embasaram
também a Declaração dos Direitos Humanos da ONU, em 1948. Mas as igrejas
desviaram-se de vários desses princípios ao longo de suas trajetórias.
“Em quantos cultos um pregador enfatiza a passagem em que Javé manda
dizimar uma cidade? Esse pregador diz que isso é feito para eliminar
pecadores. É difícil engolir essa narrativa. Muitas religiões passaram
pela mortandade para seu projeto de hegemonia e de expansão física”,
lamentou o palestrante, citando episódios de matança em nome da
religião, como as facções radicais islâmicas aramadas. Lembrou,
inclusive, que a palavra “facção” tem inspiração religiosa naqueles que
em nome de Deus buscavam supremacia, por isso hoje a palavra dá nome a
grupos violentos que agem nas cadeias brasileiras.
Professor Jorge Schutz culpa a igreja, e não o governo, pelo estágio
da violência vivida no Brasil, entendendo que é papel da religião educar
para o direito à liberdade e suas implicações. “Faço um mea culpa.
Corpos decapitados e mutilados são símbolos de que em algum momento
faltou nas igrejas o discurso da liberdade, cujo limite é que não fira o
próximo”, citou.
Também lamentou a polaridade de hoje no campo das opiniões, em que se
deve estar de um lado ou do outro, seja na política ou no
comportamento. “Liberdade e vida se comungam. A Declaração Francesa já
falava que ninguém deve ser incomodado por suas opiniões”, destacou na
aula inaugural de 2017, transmitida ao vivo para todos os polos de
Educação a Distância Metodista.
Fonte: UMESP
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