No final da tarde da
última sexta-feira pistoleiros fortemente armados, promoveram uma seção
de violência contra um grupo de 10 famílias que estavam acampadas às
margens do Rio Araguaia, no município de São João do Araguaia. Os
pistoleiros estavam todos encapuzados e portavam escopetas, pistolas e
revolveres. Eles chegaram ao local onde as famílias estavam acampadas em
duas caminhonetes. Além dos adultos, estavam no acampamento 11
crianças, entre 3 meses e 10 anos de idade. Havia também uma mulher
grávida de 3 meses.
Durante quase uma hora
os trabalhadores foram vítimas de uma seção de torturas da qual nem as
crianças foram dispensadas. Os adultos foram espancados a golpes de
paus, facões e coronhadas. As marcas ficaram espalhadas pelos corpos dos
trabalhadores. Os pistoleiros dispararam suas armas próximo do ouvido
de duas crianças gêmeas de 3 meses de idade para aterrorizar sua mãe.
Atiraram em redes com crianças dentro, além de derrubarem e pisotearem
crianças no chão. Uma das mães que estava grávida, que também foi
pisoteada, teve sangramento e pode ter sido vítima de aborto.
Após a seção de
torturas, os pistoleiros colocaram fogo nos barracos dos agricultores
com tudo que estava dentro. Além dos pertences, documentos pessoais de
alguns dos agricultores também foram queimados. Dois trabalhadores que
chegaram ao acampamento no momento da seção de terror, retornaram
correndo sob tiros disparados pelo grupo armado. Todos foram obrigados a
subirem na carroceria das duas caminhonetes, com a roupa do corpo,
sendo abandonados na Vila Santana, localizada às margens da Rodovia
Transamazônica, a cerca de 30 km do local do acampamento.
Esse grupo de sem
terras, junto com outras famílias, foram despejados em janeiro desse ano
da Fazenda Esperantina de propriedade da siderúrgica SIDENORTE Marabá,
por ordem do juiz da Vara Agrária de Marabá. Sem ter para onde ir esse
grupo de famílias decidiu acampar às margens do Rio Araguaia, a cerca de
10 km dos limites da fazenda. Mesmo longe dos limites da propriedade,
os pistoleiros não deixaram de perseguir as famílias. A ordem dada pelos
pistoleiros foi para que as famílias fossem para o Tocantins e não
ficassem mais no Pará.
O uso de grupo de
pistoleiros para fazerem despejos ilegais e torturarem trabalhadores sem
terra tornou-se uma prática recorrente de fazendeiros da região. Nos
últimos dois anos foram cinco ações dessa natureza. Por outro lado, não
há informações se a Polícia Civil tenha investigado e responsabilizado
alguém por organizar essas milícias armadas na região sudeste do Pará.
Marabá, 07 de maio de 2018.
Comissão Pastoral da Terra – CPT, diocese de Marabá.
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