De 2015 a 2017, foram registradas dez mortes de lideranças de terreiros no Estado do Pará
Por João Thiagfo Dias
De
2015 a 2017, foram registradas dez mortes de lideranças religiosas de
terreiros no Estado do Pará. O número foi apresentado, na manhã desta
quinta-feira (8), pela Conselheira Nacional de Diversidade Religiosa do
Ministério dos Direitos Humanos e Coordenadora do Comitê Inter-religioso
do Pará, Mametu Nangetu, durante o "Seminário Estratégias de
Enfrentamento da Intolerância Religiosa". O evento foi organizado pela
Universidade do Estado do Pará (Uepa), por intermédio do curso de
Ciências da Religião, no campus do Telégrafo, em Belém.
Foram
realizadas duas mesas de debate, uma com relatos de experiências a
respeito do cenário de intolerância religiosa, que contou com a
participação de Mametu Nangetu, da missionária católica Leidiane Gomes,
da pesquisadora de intolerância religiosa nas escolas, Luciana Martins, e
da coordenadora do curso de Ciências da Religião da Uepa, Taissa
Tavernard. O outro debate foi conduzido por professores da universidade e
tratou das estratégias para o enfrentamento contra esse tipo de
situação.
"Minha casa já foi apedrejada e
continuo sofrendo racismo religioso, porque a vizinhança fica mandando
eu me retirar dali. Mas sou uma mulher de tradição e sou respeitada pelo
meu Estado", destacou Mametu. "Além disso, teve um caso recente em
Mosqueiro em que uma professora pediu para a filha não se identificar
mais na escola como pessoa de terreiro, pois estava sofrendo preconceito
e violência verbal. É importante que as pessoas denunciem. Temos que
contabilizar essas estatísticas", pediu.
OAB
Segundo
o presidente da Comissão de Direito e Defesa da Liberdade Religiosa da
Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Pará (OAB-PA), Emerson Lima,
existe um quadro muito grave de intolerância religiosa no Pará. "Temos
registros de ameaça e morte. Quase 80% dos atos são praticados contra
líderes de religiões de matrizes africanas", afirmou. "Muitas vítimas
não sabem reconhecer quando realmente se trata de um caso desse tipo, ou
então têm medo de narrar. E, quando narram, muitas autoridades
classificam como outro crime, pois há um problema institucional para
detectar", acrescentou.
Emerson também
explica que existem três caminhos para denunciar este tipo de crime no
Estado. "A vítima pode procurar a OAB/PA, o Ministério Público ou a
delegacia especializada, mas eu sugiro sempre que nos procurem primeiro,
pois fazemos uma triagem e preparamos um documento para a vítima ir até
à delegacia ou até o Ministério Público munida de argumentos e aparato
jurídico. Muitas vezes, membros da nossa comissão tiveram que acompanhar
a vítima à delegacia, pois ouviram do delegado que não se tratava desse
tipo de crime", comentou.
A Comissão atua
no combate e também na prevenção dos crimes de preconceito religioso.
"Integramos um grupo de trabalho com o Conselho de Segurança Pública do
Estado e outros membros da sociedade civil. Levantamos assassinatos e
atos violentos cometidos contra integrantes de religião de matriz
africana, projetando ações de segurança e defesa. E temos parceria com a
Secretaria de Estado de Educação do Pará. É um projeto implantado este
ano. Vamos às escolas públicas de Ensino Médio promover o diálogo sobre
liberdade religiosa, democracia e direitos humanos", finalizou Emerson
Lima Júnior.
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