quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Em nota de repúdio, movimentos pedem retratação do MP sobre arte que exclui religião de matriz africana


Lucas Eurilio – Gazeta do Cerrado
Uma ilustração divulgada nas redes sociais do Ministério Público do Estado do Tocantins (MP-TO) tem causado revolta ao movimento negro e representantes de religiões de Matriz Africana, isso porque teria sido retirada da imagem uma Mãe de Santo.
Movimentos negros do Tocantins emitiram uma nota nesta qurta-feira, 22, pedindo que o MP se retrate sobre o episódio. (Veja no final da matéria).
Anteriormente a imagem foi postada pelo Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) no Instagram para celebrar o Dia de Combate a Intolerância Religiosa no Brasil, usada para o mesmo intuito do MP-TO.
Ilustração publicada pelo Ministério Público da Bahia – Reprodução INstagram
A imagem tem causado polêmica nas redes sociais e muitos internautas questionaram o MP-TO sobre sobre a imagem.
“Usam Axé e não incluem imagem de mãe de santo? Sério isso? Real isso?” questionou uma internauta.
Uma página de Umbanda perguntou também se o MP-TO, poderia apagar a imagem e repostar uma que representasse igualmente a todos. Questiona ainda se foi plágio.
Ilustração publicada pelo Ministério Público do Tocantins – Reprodução Instagram
O MP-TO por sua vez respondeu a seguidora nas redes sociais e disseram que “Não plagiamos a imagem dos colegas do MP da Bahia. Tampouco tiramos a representatividade de matriz africana. Essa ilustração utilizada em nossa peça provém de um banco de imagens e não sofreu alteração de conteúdo”, disse o MP-TO.
O MP-TO afirmou ainda que “o órgão respeita e atua proavativamente na defesa da liberdade religiosa em sua plenitude”.
Várias entidades de movimentos negro vão se manifestar através de nota sobre o assunto, criticando e repudiando a ilustração sem a figura da mãe de santo. (Veja no final da matéria).

Nota do Ministério Público do TO

Acerca da postagem nas páginas do Ministério Público do Tocantins nas redes sociais alusiva ao “Dia de Combate à Intolerância Religiosa”, celebrado em 21 de janeiro, a imagem não sofreu edição que suprimisse a representatividade de qualquer religião, tratando-se de uma arte proveniente de banco de imagens gratuito e de acesso público. (Confira a imagem aqui http://bit.ly/2GeDWx6).

Informamos que o MPTO nutre profundo respeito pela diversidade de credos e atua firmemente para preservar o direito à liberdade de cultos, previsto na Constituição Federal.

O Ministério Público do Tocantins possui um histórico de atuação no combate à intolerância, como no recente caso de intolerância religiosa praticado pela Câmara Municipal de Nova Rosalândia contra um grupo religioso de matriz africana (link da matéria http://bit.ly/2NQ77e5).

Ao presenciar ou ter informações sobre a privação do direito à liberdade religiosa e crimes de ódio, o cidadão deve acionar o Ministério Público por meio da Ouvidoria pelos seguintes canais:

a) pelo site mpto.mp.br/ouvidoria
b) pelos telefones (63) 3216-7575 e 3216-7598;
c) pelo e-mail ouvidoria@mpto.mp.br;
d) por correspondência enviada para o endereço Quadra 202 Norte, Avenida. LO 4, Conjunto. 1, Lotes 5 e 6, Plano Diretor Norte, Cep 77.006-218 – Palmas-TO; ou
e) presencialmente, em qualquer unidade do Ministério Público do Tocantins nas 42 Comarcas do Estado.

Nota dos movimentos sociais negros

Os movimentos sociais negros do Tocantins vêm publicamente repudiar a exclusão de representante das religiões de matriz africana na campanha de publicidade do Ministério Público Estadual do Tocantins, alusiva ao dia 21 de janeiro – dia nacional de combate à intolerância religiosa.
Contraditoriamente, a peça de divulgação utilizada pelo MPE/TO identifica diversas expressões religiosas presentes no Brasil, contudo exclui a figura da Mãe de Santo – representação das religiões de matriz africana, que réplica divulgação do MPE/BA , em outra imagem similar (conforme se vê no print abaixo).
Vale lembrar, que a data foi definida em homenagem à Ialorixá Mãe Gilda de Ogun, vítima fatal de intolerância religiosa.
Observa-se que na peça publicitária houve, tão somente, a supressão dessa religião e das religiões indígenas. O fato se agrava, sobretudo, porque um dos componentes do racismo estrutural no Brasil é justamente a demonização das religiões de matriz africana, o desrespeito às lideranças e rituais exercidos pela população negra inserida nesse grupo religioso.
É importante destacar que intolerância se dá não somente em ataques diretos, mas também na omissão institucional em relação à existência do outro.
Como militantes negrxs, solicitamos que o órgão reveja sua postura de reprodução do racismo institucional e se retrate, porque esse grupo é justamente o principal atingido em ações de desrespeito sistêmico – pauta de reflexão no “Dia de combate à intolerância religiosa”.
Ressaltamos, por fim, que os ataques impostos às religiões de matriz africana, são ataques à cultura do povo preto – que sempre sofreu (e ainda sofre) processos de exclusão em solo brasileiro.
Palmas, 22 de janeiro de 2020.
-Coletivo Feminista Ajunta Preta
-Movimento Negro Unificado- MNU
-Coletivo Nacional de Juventude Negra – Enegrecer


Fonte: Gazeta do Cerrado

domingo, 19 de janeiro de 2020

Roda de conversa sobre fé evangélica, política, fundamentalismos e liberdades. Na cidade de Belém/PA.

A Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito é um movimento, nascido no meio cristão evangélico, com os objetivos de promover a justiça social, a defesa de todos os direitos garantidos pela constituição brasileira (direitos civis, políticos, sociais, econômicos, culturais, etc.) e pela legislação internacional de direitos humanos, enfrentar quaisquer violações de direitos humanos, lutando pela garantia do Estado Democrático de Direito.

O encontro da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito em Belém do Pará será nos dias 24 (sexta-feira a noite) e 25 (sábado, de manhã e a tarde) de janeiro de 2020, com entrada franca, na Igreja Evangélica de Confissão Luterana, com presenças confirmadas da jornalista Nilza Valéria (batista, ativista dos direitos humanos e feminista) e do pastor Ariovaldo Ramos (teólogo batista e filósofo).

Para saber mais da Frente e do evento, clique aqui.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

O papel dos cristãos que apoiam a comunidade LGBT nunca foi tão importante

"Tentar falar mais alto que nós, dizendo que 'o cristianismo real não é assim', significa silenciar as histórias da população LGBT."
Por Hannah Brashers, HuffPost US 

Cresci numa igreja fundamentalista e minúscula, onde me diziam todo domingo que homossexuais eram criaturas do mal. A voz do pastor tremia de raiva quando ele comparava gays a pedófilos. Até aquele ponto eu já sabia que era lésbica, mas, quando pensava em mulheres, imediatamente suprimia esses pensamentos – porém não antes de ser tomada por uma onda de terror. 
“Vou me interessar por meninos quando entrar na faculdade”, eu repetia para mim mesma. “Vou me interessar por meninos quando me formar. Logo mais me sentirei normal.”
Por mais que eu tentasse, o desejo heterossexual nunca se materializou em mim, e isso fazia com que eu me sentisse isolada e sozinha. Quando comecei a sair com mulheres, tinha frequentes ataques de pânico e sentia náuseas tão fortes que vomitava várias vezes por semana. 
"Conto minha história porque quero que as pessoas saibam o mal que a religião pode fazer".
Desde que saí do armário, entendi a importância de contar minha história e de fazê-la com tanta frequência que agora as palavras saem da minha boca com facilidade. Conto minha história porque quero que as pessoas saibam o mal que a religião pode fazer. Quero que as pessoas não sintam o mesmo que eu. Mas, toda vez que compartilho minha experiência, sempre ouço uma resposta: “Sinto muito por você, mas isso não é o cristianismo verdadeiro.”
Embora minha história de abuso religioso seja somente minha, ela não é única. Na realidade, quase todos os meus amigos que são LGBTs ouviram alguma variação dessa frase. No meu caso, apesar de tê-la ouvido várias vezes a esta altura, ela continua me magoando. Dizer isso para quem acabou de contar sua história é desviar o olhar enquanto as pessoas da sua fé abusam uma comunidade que já é marginalizada.