quinta-feira, 22 de junho de 2023

Instituto Fogo Cruzado e FEED conversam em Belém sobre propostas de enfrentamento à violência urbana

Reunião entre Inst. Fogo Cruzado e FEED

Na noite de 21 de junho, a Igreja Evangélica Graça e Paz, no bairro do Bengui, em Belém/PA, acolheu o encontro entre o Instituto Fogo Cruzado e a Frente de Evangélicos/as pelo Estado de Direito do Pará - FEED/PA.

O Instituto Fogo Cruzado e o FEED Nacional participam na cidade da 17ª edição do Encontro Anual do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, sediado pela primeira na Amazônia, reunindo gestores federais, estaduais e municipais, profissionais da segurança pública, pesquisadores acadêmicos e representantes da sociedade civil dos 26 estados e do Distrito Federal. 

O Instituto é uma organização da sociedade civil que atua na produção de estatísticas sobre a violência com armas de fogo a partir do uso de tecnologias para o monitoramento de registros de tiros e suas danosas consequências. 

Para a representante do Instituto Fogo Cruzado há um erro estratégico no tratamento da violência no Brasil: a crença de que se pode garantir a segurança com o aumento de pessoas armadas. Na falta de politicas públicas consolidadas, acredita-se em falsos argumentos como o "se armar mais a população, ela vai de defender e o problema será resolvido". afirmou a técnica do Instituto.

O diálogo com o FEED, bem como outras entidades, é importante devido seu potencial de mobilização comunitária. Observa-se que no Brasil, nos últimos anos, criou-se uma percepção preconceituosa do segmento evangélico, como esse fosse um bloco unitário e reacionário. Mas as igrejas evangélicas são diversificadas, com múltiplas lideranças engajadas em causas sociais e com presença espalhada por todas as cidades, tanto no centro como na periferia, o que pode contribuir no monitoramento e enfrentamento da violência.

O Instituto Fogo Cruzado retornará no segundo semestre, pretendendo abranger mais organizações sociais para articular uma possível extensão na Região Metropolitana de Belém dos trabalhos da ONG que já monitora a violência nas Regiões Metropolitanas do Rio de Janeiro, Salvador e Recife.

Por Giovana Vilhena e Tony Vilhena
 

terça-feira, 20 de junho de 2023

Preocupações socioambientais com a extração de petróleo na Costa Amazônica*

Você conhece o ambicioso projeto da Petrobras para exploração de petróleo na Costa Amazônica? Movimentos sociais, organizações ambientais e institutos de pesquisa científica têm buscado dar visibilidade para os riscos deste empreendimento que pode afetar danosamente o meio ambiente e as comunidades que vivem nessa extensa região. O governo Lula está num dilema diante dos interesses da Petrobras e a resistência do Ibama.

Mapa da posição do bloco 59 da Petrobras. Infográfico: Rodolfo Almeida/SUMAÚMA


Petróleo na Amazônia

Não é de hoje que se busca petróleo na Amazônia. Na década de 1950, a Petrobras investiu pesado em equipamentos e profissionais estrangeiros. Inclusive chegou a encontrar em um poço em Nova Olinda/AM. Fato muito comemorado na época, mas que gerou frustração devido à baixa quantidade do produto para prospecção, o que o tornava comercialmente inviável. 

José Mauro de Morais, na obra “Petróleo em águas profundas…” (2013), rememora o fato do jornal The New York Times dar a notícia da descoberta de petróleo na Amazônia como uma das maiores do mundo, perdendo apenas para o Oriente Médio. Ledo engano.


O que as empresas de petróleo desejam na Costa Amazônica?

As companhias Total (francesa) e BP (britânica) iniciaram as tratativas para a obtenção de licença para perfuração de poço em plena bacia de Foz (onde o rio deságua) do Amazonas. O Ibama negou o pedido da Total, em 2018. Já o pedido da BP, após diversos descumprimentos, foi transferido para sua sócia, a Petrobras, em 2020.

Conforme o relatório da consultoria CBIE, com dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Brasil - ANP, estima-se a extração de 1,1 milhão de barris por dia na região.

Na perspectiva do mercado, a exploração mineral nesta faixa próxima à Linha do Equador, descentralizaria a geração de riquezas. “Além de aumentar a produção brasileira de petróleo e gás, a exploração da margem equatorial abriria uma nova importante fronteira de produção no país, hoje extremamente concentrada na região sudeste, trazendo maior oportunidade de crescimento e industrialização para a região norte e nordeste” (CBIE, 2023, p. 53).


Ameaça de vazamentos acidentais de óleo

Quando o Ibama negou a licença ambiental para a Total, em dezembro de 2018, os movimentos sociais presentes nesta região do país junto com organizações ambientais comemoram. Pois, além da pressão social exercida sob órgão ambiental, havia uma grande mobilização internacional que constrangeu a empresa em não recorrer da decisão.

O Programa de Estudos Costeiros do Museu Paraense Emílio Goeldi - PEC/MPEG - informa que a costa norte brasileira é composta por uma série de bacias hidrográficas com características peculiares, que compõem o grande estuário (transição entre rio e mar) amazônico. Nela estão os maiores e mais preservados manguezais do mundo.

Em junho de 2021, 14 entidades protocolaram um pedido no Ministério Público Federal para que este se manifestasse junto ao Ibama pelo indeferimento das licenças para exploração de petrolífera na Costa Amazônica, diante dos potenciais riscos de derramamento de óleo.

Argumentam que a Foz do Rio Amazonas é singular no planeta. Representa o maior aporte de água continental nos oceanos e a maior descarga de sedimentos em suspensão, despejando anualmente 17% do total mundial. É o estuário amazônico, ambiente rico em manguezais, ambientes recifais, economias e culturas locais.

Soma-se o fato da confirmação recente de presença de corais que se estendem do Maranhão à Guiana Francesa, o que demanda aprofundamento de pesquisas. Estudo publicado na revista científica “Frontiers in Marine Science” aponta que nesses corais há complexidade e diversidade de habitats, com necessidade de adoção de “medidas preventivas de conservação para proteger a região diante das ameaças crescentes das práticas extrativas de petróleo e gás” (FRANCINI-FILHO, 2018).


Falta de consulta às populações atingidas

Outra questão sensível é sobre os impactos causados às populações locais. Embora trata-se da região de menor densidade populacional do Brasil, com áreas de ocupação dispersas, há considerável diversidade de comunidades tradicionais, caboclos, ribeirinhos, quilombolas, pescadores, agricultores e indígenas.

O “Atlas de sensibilidade ambiental ao óleo da Bacia Marítima da Foz do Amazonas” destaca que a “diversidade de atividades deve ser considerada no planejamento de ações de contingência e resposta emergencial a acidentes/danos ambientais. As principais atividades com potencial risco de conflito com as atividades de exploração são a pesca – artesanal e industrial - o turismo e as atividades industriais” (SANTOS; MENDES; SILVEIRA, 2016, p. 28).

À vista disso, em setembro de 2022, as unidades do Ministério Público Federal - MPF - no Pará e no Amapá acionaram o Ibama e à Petrobras para as providências de suspensão de qualquer atividade de perfuração marítima programada para a bacia da foz do Amazonas.

O MPF argumenta que a atividade vai impactar quatro comunidades indígenas no Amapá e comunidades quilombolas e ribeirinhas no Pará, mas não foi assegurado “o direito dos povos indígenas e comunidades tradicionais de serem consultados, de forma PRÉVIA, LIVRE e INFORMADA” (MPF, 2022), antes de serem tomadas medidas legislativas ou administrativas suscetíveis de afetá-los diretamente.


Dilema para o governo Lula

Após os anos de governo Bolsonaro, que reduziram as estratégias governamentais em defesa do meio ambiente e das populações amazônicas, Lula se elegeu com agenda conservacionista recomendada por setores das ciências e de organizações ambientalistas. Agora seu governo vê-se num impasse entre os interesses da Petrobras, que inclusive já contava com a exploração das reservas de petróleo e gás no seu planejamento estratégico, e do dever do Ibama, que no final de abril de 2023 emitiu parecer técnico negando o pedido.

Parece que são dois governos distintos. Por um lado, Petrobrás e Ministério de Minas e Energia reivindicam a autorização. Do outro lado, Ibama e Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima afirmam que a negação está ampara por critério técnicos.


Alepa promove debate sobre a questão

A Assembleia Legislativa do Pará (Alepa) realizou, sexta-feira passada (16/06), uma audiência pública para supostamente fomentar a discussão sobre a exploração de petróleo e gás na região pretendida pela Petrobrás.

Mas o que se viu foi um desfile de tecnocratas das universidades, da Petrobrás, da Fiepa, de entidades de classe e políticos defendendo a exploração de petróleo. Enquanto isso, com diminuto poder de fala e representação, organizações ambientalistas e comunidades tradicionais pediam para serem ouvidas.

Costa Amazônica é centro de disputa. Mas, as decisões ocorrem distantes das populações afetadas. 

 

Fontes

CBIE Advisory. Relatório Especial Edição 008: perspectivas para o setor energético em 2023 (Outlook 2023). Disponível em: <https://drive.google.com/file/d/1VchotK6WqxkIvRAe3-pPK6tp05sAIFva/view>. Acesso em: 08 maio de 2023.

FRANCINI-FILHO, R.B. et al. Perspectives on the Great Amazon Reef: Extension, Biodiversity and Threats. Frontiers in Marine Science, v. 5, 2018. Disponível em: <http://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fmars.2018.00142/full>. Acesso em: 08 maio de 2023.

MORAIS, José Mauro de. Petróleo em águas profundas: uma história tecnológica da Petrobras na exploração e produção offshore. Brasília: Ipea: Petrobras, 2013.

MPF. Recomendação Conjunta Nº 17/2022. Disponível em: <https://www.mpf.mp.br/pa/sala-de-imprensa/documentos/2022/recomendacao-conjunta-mpf-ap-pa-ibama-petrobras-suspensao-perfuracao-foz-amazonas.pdf>. Acesso em: 08 maio de 2023.

SANTOS, Valdenira F. dos; MENDES, Amilcar C; SILVEIRA, Odete F. M. da. Atlas de sensibilidade ambiental ao óleo da Bacia Marítima da Foz do Amazonas. Macapá: IEPA, 2016.


* Por Tony Vilhena - Cientista Político