segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Seminário debate estratégias de enfrentamento da intolerância religiosa

De 2015 a 2017, foram registradas dez mortes de lideranças de terreiros no Estado do Pará 

Por João Thiagfo Dias
 
Foto: Nailana Thiely (ASCOM/UEPA)
De 2015 a 2017, foram registradas dez mortes de lideranças religiosas de terreiros no Estado do Pará. O número foi apresentado, na manhã desta quinta-feira (8), pela Conselheira Nacional de Diversidade Religiosa do Ministério dos Direitos Humanos e Coordenadora do Comitê Inter-religioso do Pará, Mametu Nangetu, durante o "Seminário Estratégias de Enfrentamento da Intolerância Religiosa". O evento foi organizado pela Universidade do Estado do Pará (Uepa), por intermédio do curso de Ciências da Religião, no campus do Telégrafo, em Belém.
Foram realizadas duas mesas de debate, uma com relatos de experiências a respeito do cenário de intolerância religiosa, que contou com a participação de Mametu Nangetu, da missionária católica Leidiane Gomes, da pesquisadora de intolerância religiosa nas escolas, Luciana Martins, e da coordenadora do curso de Ciências da Religião da Uepa, Taissa Tavernard. O outro debate foi conduzido por professores da universidade e tratou das estratégias para o enfrentamento contra esse tipo de situação. 
"Minha casa já foi apedrejada e continuo sofrendo racismo religioso, porque a vizinhança fica mandando eu me retirar dali. Mas sou uma mulher de tradição e sou respeitada pelo meu Estado", destacou Mametu. "Além disso, teve um caso recente em Mosqueiro em que uma professora pediu para a filha não se identificar mais na escola como pessoa de terreiro, pois estava sofrendo preconceito e violência verbal. É importante que as pessoas denunciem. Temos que contabilizar essas estatísticas", pediu.

OAB
 
Segundo o presidente da Comissão de Direito e Defesa da Liberdade Religiosa da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Pará (OAB-PA), Emerson Lima, existe um quadro muito grave de intolerância religiosa no Pará. "Temos registros de ameaça e morte. Quase 80% dos atos são praticados contra líderes de religiões de matrizes africanas", afirmou. "Muitas vítimas não sabem reconhecer quando realmente se trata de um caso desse tipo, ou então têm medo de narrar. E, quando narram, muitas autoridades classificam como outro crime, pois há um problema institucional para detectar", acrescentou.
Emerson também explica que existem três caminhos para denunciar este tipo de crime no Estado. "A vítima pode procurar a OAB/PA, o Ministério Público ou a delegacia especializada, mas eu sugiro sempre que nos procurem primeiro, pois fazemos uma triagem e preparamos um documento para a vítima ir até à delegacia ou até o Ministério Público munida de argumentos e aparato jurídico. Muitas vezes, membros da nossa comissão tiveram que acompanhar a vítima à delegacia, pois ouviram do delegado que não se tratava desse tipo de crime", comentou. 
A Comissão atua no combate e também na prevenção dos crimes de preconceito religioso. "Integramos um grupo de trabalho com o Conselho de Segurança Pública do Estado e outros membros da sociedade civil. Levantamos assassinatos e atos violentos cometidos contra integrantes de religião de matriz africana, projetando ações de segurança e defesa. E temos parceria com a Secretaria de Estado de Educação do Pará. É um projeto implantado este ano. Vamos às escolas públicas de Ensino Médio promover o diálogo sobre liberdade religiosa, democracia e direitos humanos", finalizou Emerson Lima Júnior.

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