sexta-feira, 3 de julho de 2020

Pe. João Maria nos deixa, mas as sementes ecumênicas frutificam

Celebração religiosa pelos 50 anos do Hospital Barros Barreto, em 14/09/2009
Foto: Equipe de Comunicação/HUJBB/UFPA

Recebi ontem, dia 02 de julho, a notícia do retorno do Pe. João Maria Van Doren ao seio da criação. Ele havia retornado do Brasil para a sua terra natal, a Holanda, devido à idade avançada e complicações de saúde, após atuar em Belém desde a década de 1960 nas Paróquias de Nsa. Sra. Aparecida (24 anos) e Santa Cruz (8 anos).
Na foto acima (da esquerda para direita: eu da Metodista, Rev. Marcos Barros da Episcopal Anglicana, Pr. Evandro Andrade da Assembleia de Deus e Pe. João Maria da Católica Apostólica Romana), estamos numa celebração ecumênica de aniversário de 50 anos do Hospital Universitário João de Barros Barreto, em Belém do Pará.
Estes foi um dos encontros ecumênicos que participamos juntos. Mas o primeiro, que eu lembro com ternura e orgulho, foi no auditório do Centro de Evangelização de Nossa Senhora de Fátima numa formação para a Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2000, que pedia "um novo milênio sem exclusões". Naquela altura, ele já era uma referência religiosa no estado do Pará. Pois, além de reconhecida atuação em prol do diálogo religioso, dois anos antes ele havia sido refém e figura importante para a resolução de uma sangrenta rebelião no Presídio São José. E eu tremia na base. Ele fez questão de me colocar em local de maior evidência, num gesto de acolhimento e gentileza ímpar. 
A casa que abrigava os religiosos da sua Ordem dos Crúzios ficava na Trav. Barão do Triunfo, mesma rua da Igreja Metodista. Então, facilitava visitas mútuas. Várias vezes o Pe. João Maria pregou na Metodista. Andava com desenvoltura no bairro da Pedreira com sua bicicleta.

Foto: Cláudio Augusto
Foto: Cláudio Augusto
Uma vez fui merendar na sua casa e articular uma celebração ecumênica. Prestei atenção que entre o jardim e o portão da casa havia uma pequena plantação desordenada de feijão e, por mera curiosidade, perguntei quem havia plantado. A história que ele me contou sintetiza sua fé e seu testemunho.
Disse-me o padre que um dia um pedinte tocou a campainha querendo doações. Não havendo ainda comida pronta na casa, Pe. João juntou rápido numa sacola vários gêneros alimentícios e levou para doar. Mas o cidadão atendido ficou muito contrariado, exigindo ajuda somente em dinheiro. Ao ver que não teria o dinheiro, irritou-se com o padre e o arremessou de volta um saco de feijão, indo embora. Ao atingir o padre, o feijão se espalhou no chão, brotou e cresceu. Enquanto eu pensava em vários xingamentos para aquele homem ingrato e imagina como aplicar cada um se eu estivesse lá naquele momento, Pe. João concluiu seu relato dizendo que aqueles pés de feijão eram sinal de evangelho: do amor que leva à doação, mesmo não aceita, não entendida ou não agradecida.
Quantos outros frutos temos hoje do seu trabalho missionário? Tenho certeza que são incontáveis. Nossa gratidão, pe. João, e sua bênção.

Prof. Tony Vilhena
(Ex-coordenador do Conselho Amazônico de Igrejas Amazônicas - CAIC)

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