Responsável pela
elaboração do II Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável para
Comunidades Tradicionais de Matriz Africana e Povos de Terreiro (II
PNMAFT), a Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade
Racial (Seppir), do Ministério dos Direitos Humanos (MDH), comemora,
junto aos religiosos de matriz africana de todo país, o reconhecimento
do Terreiro Ilê Obá Ogunté Sítio de Pai Adão como Patrimônio Cultural do
Brasil, ocorrido na última quinta-feira (20). Por decisão unânime do
Conselho Consultivo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (Iphan), o título foi concedido a este terreiro histórico que
fica no bairro de Água Fria, na Zona Norte do Recife/PE.
O reconhecimento já estava previsto no Eixo II - Territorialidade e
Cultura do I PNMAFT, que tem como meta física, no Objetivo 03, o
tombamento desta e de outras três casas tradicionais de matriz africana:
Ilê Axé Oxumaré (Salvador /BA), Roça do Ventura / Seja Hundé (Cachoeira
/ BA), Ilê Agboula (Itaparica/BA) e Obá Ogunté (Recife /PE).
O Plano é fruto do reconhecimento do Governo Federal e dos órgãos
federais que compõem o grupo de trabalho interministerial para garantir
direitos, efetivar a cidadania, enfrentar o racismo e a discriminação
sofrida pelos povos e comunidades tradicionais de matriz africana.
A história oral versa que o espaço sagrado foi fundado em 1875 por
uma negra nigeriana escravizada chamada Ifátinuké, que no Brasil atendia
pelo nome de Inês Joaquina da Costa, ou simplesmente Tia Inês. O
terreiro recebeu posteriormente o nome de Pai Adão em homenagem a um dos
sacerdotes e maiores propagadores da cultura nagô na capital
pernambucana.
Atento às necessidades dos povos de terreiros, o secretário nacional
de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do MDH, Juvenal Araújo,
destaca a necessidade da promoção da igualdade racial no desenvolvimento
de políticas públicas para religiosos de matriz africana.
“O MDH,
por meio da Seppir, realizou recentemente o Seminário Ancestralidade e
Sustentabilidade da Mulher Negra: Violência, Violação de Direitos e
Emancipação. Agora, teremos melhores condições para apresentar propostas
que contribuam para reduzir a discriminação étnico-racial, religiosa e
de gênero. Especialmente no que tange às condições das mulheres negras,
que lamentavelmente continuam sendo a base da pirâmide social
brasileira”, destaca o secretário.
Caminhos de uma Ancestralidade - Um dos primeiros
terreiros de Xangô, situado numa área de 4.190m², o Ilê Obá Ogunté Sítio
de Pai Adão é um dos mais antigos e mais importantes templos de culto
afro-brasileiro de Pernambuco. De nação Nagô-Egbá, segue a tradição dos
povos iorubanos. É consagrado a Iemanjá, orixá das águas salgadas,
vinculando-se, assim, à cidade do Recife, entrecortada por rios e
banhada pelo mar.
Duas árvores sagradas de grande porte estão localizadas na entrada:
um pé de abricó/gameleira e nos fundos do terreno, o Iroco. De grande
importância simbólica, o cultivo da primeira está relacionado à sua
origem — em uma versão, a compra do terreno se deu pela existência dessa
árvore no local. Em outra, sua semente teria sido trazida da África por
Tia Inês — e ao fato de, na época de grande repressão policial aos
cultos afrodescendentes, nos anos 1930 e 1940, indumentárias e imagens
dos orixás seriam escondidas em seu interior, que é oco.
Com informações do IPHAN e Fundação Joaquim Nabuco