Abertura da roda de diálogo |
A Associação dos Filhos e Amigos do Ilê Iyá Omi Asé Òfá Kare - AFAIA, entidade de referência do movimento negro e do candomblé na cidade de Belém/PA, promoveu nesta quinta-feira (06/07) uma roda de diálogo com o tema “Racismo Religioso e Políticas Públicas para Povos Tradicionais de Matriz Africana (POTMAS)”, no auditório do prédio-sede do Ministério Público Federal (MPF/PA). O evento faz parte da programação de aniversário de 36 anos da associação.
Abertura dos trabalhos foi realizada pela profa. Marilu Campelo (Grupo de Estudos Afro-Amazônico - GEAM/UFPA) e a mediação ficou por conta do advogado e sacerdote Bàbá Edson Catendê (coordenador da AFAIA).
Participaram da mesa: Mametu Muagile/Mãe Beth da Bamburucema, Dr. Felipe Palha (Procurador-chefe do Ministério Público Federal - MPF/PA), Dra. Ana Izabel Santos (Defensoria Pública do Estado do Pará) e a Profa. Beatriz Cruz (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional - FASE).
Mametu Muagile/Mãe Beth da Bamburucema citou o ditado "por mais que uma árvore caia, se se manter a raízes ela renascerá ". Assim, exaltou o legado ancestral que mantém as comunidades vivas e resistentes ainda hoje, mesmo diante de tantos desafios.
Em sua exposição, o procurador Felipe Palha defendeu que vale a pena reforçar a classificação das Religiões de Matriz Africana como "Povos Tradicionais", pois fortalece no MPF um raio de ação, conforme a Convenção 169 (Organização Internacional do Trabalho - OIT), que reconhece, entre outros direitos, as aspirações desses povos a assumir o controle de suas próprias instituições e formas de vida e seu desenvolvimento econômico, e manter e fortalecer suas identidades, línguas e religiões, dentro do âmbito dos Estados onde moram; e artigos 215 e 216 da Constituição Federal, que visam a defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro. Palha observou ainda a ineficácia do Estado em apurar os homicídios de lideranças afrorreligiosoas e em não conseguir detectar a motivação religiosa dos crimes. Também fez memória sobre a ocorrência de vários ataques racistas à página de internet do MPF quando este promoveu um outro evento com os povos de terreiro.
A defensora pública Anna Santos explicou os conceitos de racismo. Santos argumentou que o racismo religioso tenta apagar toda uma história cultural. Por isso, faz-se necessário criar instrumentos de garantias dos direitos sociais. Uma estratégia para isso é tentar que pessoas negras, afrorreligiosas e que sofrem o racismo assumam o poder, cheguem aos postos de comando de Estado.
Já para a educadora Beatriz Cruz (FASE) é preciso assumir a tarefa do não-esquecimento do que representa a diáspora africana e a resistência latino-americana. Cruz trouxe como referência o pesquisador Luiz Rufino, que na obra "Pedagogia das encruzilhadas" inspira por uma ação afrodiaspórica de ensino e cooperação. Pois "o terreiro tem papel educador, de vivência de valores", define Cruz.
Bàbá Edson Catendê explanou sobre os efeitos do racismo religioso na sociedade. "O corpo macumbeiro, com indumentária, cores, etc., são a natureza., o branco vestido com roupas se terreiro sofre discriminação, já o negro sofre o racismo", analisou o sacerdote. Para Catendê, o povo de terreiro precisa de política pública fundiária, de emprego, de saneamento básico, ou seja, as condições básicas de respeito. Do contrário, permanecerá um sistema de impedimento e de violências.
Agende-se e participe!