segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Comissão de Direitos Humanos da Alepa cobra políticas efetivas no combate à intolerância religiosa

Um Estado laico defende a liberdade religiosa a todos os cidadãos, mas os relatos dos sacerdotes de religiões de matriz africana no Pará mostram uma realidade bem diferente. Vítimas de racismo religioso, muitos são ameaçados, hostilizados, segregados e mortos. Em 2016, foram sete casos, por isso, a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), presidida pelo deputado Carlos Borbalo, levou ao auditório João Batista diversas autoridades e representantes das religiões afro no Pará para cobrar do Estado políticas públicas que combatam, efetivamente, a descriminação religiosa.
Os relatos são muitos, Mameto Naguetu (Oneide Monteiro) disse que as ações preconceituosas acabam sendo minimizadas pelas autoridades policiais como brigas de vizinhos. “Policial bate no meu terreiro e me chama de marginal, e nós não somos, nós somos tão sacerdotes quanto um pastor e um padre, temos direito, vivemos em um país laico”, disse Naguetu, que é membro do Comitê Nacional de Respeito à Diversidade Religiosa.

Religões se unem contra a intolerância

SINCRETISMO: Ato em praça público reúne adeptos de religiões diferentes



Dezenas de pessoas, entre candomblecistas, umbandistas, hare krishnas e de outras religiões participaram, na manhã de ontem, na Praça Batista Campos, do 8º Ato Contra a Intolerância Religiosa. A atividade objetivou chamar a atenção da sociedade para a necessidade do respeito à diversidade religiosa.
Candomblecista, Mam’eto Nangetu falou sobre a finalidade do ato. “Nós não queremos ser tolerados, nós queremos ser respeitados. Aqui no Estado do Pará, por exemplo, ano passado nós tivemos vários assassinatos por intolerância e desrespeito às nossas tradições. Nós queremos mostrar esta diversidade para que as pessoas olhem e percebam que só unidas nós somos fortes.


Fonte (texto e foto): ORM News

sábado, 21 de janeiro de 2017

A diversidade religiosa numa história

Em virtude do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, publicamos a história do surgimento da diversidade religiosa

Pouco tempo depois do início de tudo, uma mulher de nome HUMANIDADE, mas que há bastante tempo, sem saber precisar os motivos, permitia que lhe chamassem de DIVINDADE, como se fosse um codinome que lhe desse mais autoridade ou charme, muito humilde, sem paradeiro definido e de origem ignorada, guardava no ventre a expectativa de vida e na memória a explicação de todos os mistérios do mundo.
Aquela barriga imensa, a aparente situação vulnerável e a curiosidade de saber os porquês da vida atraíram a solidariedade de uma família que providenciou os cuidados necessários para acompanhar a gravidez. O sobrenome da família era SOCIEDADE, uma família comum, com seus altos e baixos, amores e conflitos, refeições coletivas e azias individuais.
Não sabemos se por agradecimento ou pagamento, misericórdia ou altivez, desespero ou segurança, a mulher grávida decidira no seu coração entregar o bebê para aquela família logo que viesse ao mundo e, também, revelar os tão comentados mistérios do mundo.
Os dias passavam lento e sem calendário ainda. Sucedeu que numa madrugada gélida e chuvosa, quando o frio extremo fez aumentar a sonolência, deixando todos como que entorpecidos, chegou a hora do parto. E a mulher grávida, numa agonia, entre dores e expressões ofegantes, sem que ninguém ouvisse seus gritos abafados pelo som de chuva, deu a luz, mas, como uma mártir, na solidão do seu heroísmo, não resistiu e morreu.
Somente quando as primeiras luzes tímidas do sol forçaram entrada pelas frestas da casa, a família anfitriã conseguiu despertar. Quando ainda ruminava seu torpor, foi tomada numa síncope de remorso por dormir tão profundo a ponto de não assistir em nenhum momento a mulher prenha que abrigava em seu lar. Logo, em sincronia, a família deu um salto e voou para o leito, vindo a deparar-se com um corpo inerte e três valentes meninas gêmeas chorando quase sem forças entre cordões e lençóis.
"Então era por isso aquele barrigão", foi o primeiro pensamento silencioso diante da tripla surpresa das gêmeas. O segundo, diante da mãe pálida de morte, foi "e agora como saberemos o que queríamos saber sobre a vida, o mundo..?". Após as devidas providências fúnebres, tratou-se de dar nomes para as três gêmeas, que passaram a se chamar , CRENÇA e RELIGIÃO.
As três tiveram a mesma criação. Ganhavam brinquedos iguais nos aniversários, mudando apenas as cores, demonstravam apego e defesa umas das outras, mas, mesmo assim, aqui e acolá, se engalfinhavam por trivialidades, coisas de criança.
A família cuidadora se esforçava sobremaneira para a manutenção das trigêmeas. Carinho e repreensão na medida certa, orientações e pequenos puxões de orelhas ao sabor das peraltices e tolices que as meninas aprontavam... e como aprontavam.
Veio a adolescência, as sandices, os namoros, as impaciências, os desejos e as rebeldias. Vontade de transformar o mundo misturada com a preguiça de arrumar sua própria gaveta. Mas todos esses ingredientes da juventude revelavam à contra luz uma marca hereditária de ternura e o comprometimento com o bem, atributos ainda não compreendidos como herança materna.
Demorou muito, mas muito mesmo, para a família SOCIEDADE entender que estavam aprendendo com as maninhas , CRENÇA e RELIGIÃO mais que as ensinando. Claro, as revelações se dão lentamente, caso contrário, podemos não suportar. É como contemplar a beleza das borboletas. A aproximação tem que ser passo a passo, diminuindo a respiração, cuidando de gesticular menos e dilatar a pupila mais... até o vermos cada tom de cor das asas e sua abertura magistral que quase forma um sorriso de permissão para nosso olhar.
Mesmo que tardiamente, a família SOCIEDADE ainda desfrutou da sabedoria que emanava não de discursos, mas das ações daquelas meninas. Até que elas cresceram e se emanciparam. Cada uma seguiu um rumo.
Um dia, e isso foi logo após inventarem o calendário, agora já mulheres formadas, , CRENÇA e RELIGIÃO retornam de surpresa à casa onde foram criadas pela família SOCIEDADE, levando consigo sua prole.
E sabe aquela história da grande probabilidade de pessoas gêmeas gerarem  gêmeos? Foi confirmada em cem porcento. As trigêmeas encheram a casa de contentamento e trabalheira. E, após a apresentação dos bebês e colocação do papo em dia, voltaram para seus caminhos.
E a parição de gêmeos continua à cada gestação. Até os dias de hoje já foram tantas as linhagens crescidas em progressão geométrica que tornaram-se incontáveis, com diversos nomes, comportamentos e tamanhos.
As descendências herdeiras daquelas três gêmeas se espalharam pela terra, conquistaram status e poder, tomaram pra si o direito de ordenar os calendários, posteriormente, de compasso não mão, traçaram seus limites territoriais, ajudaram a criar povos para habitarem dentro destas linhas imaginárias, inflamaram os corações de exércitos para justificar que deveriam matar e morrer na defesa dos calendários e das fronteiras que haviam sido inventados, escolheram as cores das bandeiras, apontando para o além, motivando os anseios de poder e de potência.
Mas esqueceram que tem a mesma origem na matriarca fundadora. Por isso, temos que recontar esta história.

Texto: Tony Vilhena, cientista social e mestre em ciências da religião.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

I ENCONTRO NACIONAL DO CEHIR/UNICAMP

Com o tema "Histórias, narrativas e religiões", o 1º Encontro Nacional do CEHIR tem como objetivo reunir estudantes, docentes e investigadores dos mais diversos centros de ensino e pesquisa para dialogar sobre as produções acerca das relações entre os modos de crer, as práticas cotidianas, as formas de narrar o sagrado e as estratégias individuais e coletivas registradas pela produção historiográfica. Com a intenção de promover a troca de experiências da comunidade acadêmica, a programação foi pensada a partir de temáticas teóricas e metodológicas, assim como de trabalhos empíricos que têm como base a História Cultural das Religiões.

Congresso da ANPTECRE 2017

VI Congresso da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Teologia e Ciências da Religião 


OBJETIVOS DO CONGRESSO
Objetivo Geral
  • Discutir o impacto da religião nos processos de migração e mobilidade humana no Brasil e no mundo.
Objetivos Específicos
  • Debater a relação da religião do migrante com as várias fases e facetas dos processos de migração e mobilidade humana atuais;
  • Analisar a religião e a fé professada pelos envolvidos enquanto fatores causadores, facilitadores, impeditivos ou dificultadores da mobilidade;
  • Compreender melhor o impacto dos processos de migração e mobilidade na transformação interna das próprias religiões;
  • Analisar o fundamentalismo, intolerância e a violência religiosa nos processos de mobilidade humana no mundo contemporâneo;
  • Identificar propostas, estudos, políticas e outras ações em curso ou em gestação que contribuam para a compreensão teórica e o enfrentamento político e solidário do drama humano ligado às migrações e à mobilidade;
  • Contribuir para o fortalecimento das parcerias e projetos de cooperação nacionais e internacionais dos PPGCR e Teologia, bem como, incentivar publicações conjuntas e o intercâmbio entre pesquisadores (as);
  • Promover a disseminação de novos saberes e perspectivas acadêmicas que possam ensejar novas publicações, intercâmbios e projetos de pesquisa em comum.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Vivekananda na oração inter-religiosa desta semana

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora.

Na borda do silêncio
Senta-te na borda da aurora,
para ti se elevará o sol.
Senta-te na borda da noite,
para ti cintilarão as estrelas.
Senta-se na borda da torrente,
para ti cantará o rouxinol.
Senta-te na borda do silêncio,
Deus te falará

Vivekananda. Fonte: Bernardo Commodi. Un tuffo nell´infinito. Cinisello Balsamo: San Paolo, 2006, p. 7.


Vivekananda | Foto: Wikimedia Commons

Swami Vivekananda (1863 - 1902): Foi o fundador da Ordem Ramakrishna, que tem como lema a autorrealização e o serviço ao mundo, e mais importante seguidor do líder religioso hindu Ramakrishna Paramahamsa. Um dos principais difusores das filosofias Vedanta e Yoga no Ocidente, ficou mundialmente conhecido ao proferir um importante discurso no Parlamento das Religiões do Mundo, em Chicago, 1893. Também é considerado peça-chave para a presença do hinduísmo na Índia moderna. Além disso, disseminou seus conhecimentos místicos e sua realização divina em aulas, cursos e seminários pela Europa e América.

Fonte: IHU

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

A atuação da família junto a crianças vítimas de bullying


A violência aumenta a cada dia em nossa sociedade, geradora de uma série de consequências na vida de pessoas e seus familiares. Tal situação afeta diretamente o seio familiar influenciando na questão educacional dos filhos. As fronteiras da violência no tempo e no espaço se tornam difíceis de serem definidas. É por isso que, muitas vezes, a violência pode ser confundida com agressão e indisciplina, quando se manifesta na esfera escolar. A violência no ambiente escolar têm um tipo identificado como bullying sendo um dos comportamentos agressivos observados atualmente no ambiente escolar.

Para Constatini (2004) o bullying “é um comportamento ligado à agressão verbal, física ou psicológica que pode ser efetuada tanto individual quanto grupalmente”. O bullying é um comportamento próprio das relações interpessoais, em que os mais fortes convertem os mais frágeis em objetos de diversão e prazer através de “brincadeiras” que disfarçam o propósito de maltratar e intimidar.

Bullying é uma palavra de origem inglesa, que foi adotada por diversos países para conceituar alguns comportamentos agressivos e anti-sociais e é um termo muito utilizado nos estudos realizados sobre a problemática da violência escolar, que afirma Fante (2005, p. 21), acontece de forma velada, por “meio de um conjunto de comportamentos cruéis, intimidadores e repetitivos, prolongadamente contra uma mesma vítima” e com grande poder destrutivo, pois fere a “área mais preciosa,íntima e inviolável do ser- a alma”.

De acordo com as autores Abramovay e rua (2003) a violência escolar é um fenômeno antigo em todo problema social podendo ocorrer, conforme já classificado pela ciência e adotado pelo senso comum, como indisciplina, delinqüência, problemas de relação professor-aluno ou mesmo aluno-aluno.

É um fenômeno devastador, podendo vir a afetar a autoestima e a saúde mental dos adolescentes, assim como desencadear problemas como anorexia, bulimia, depressão, ansiedade e até mesmo o suicídio. Muitas crianças vitimas do bullying desenvolvem medo, pânico, depressão, distúrbios psicossomáticos e geralmente evitam voltar a escola quando esta nada faz em defesa da vitima.

Para Chalita (2004, p. 17) em relação a família afirma que para “a educação informal nenhuma célula social melhor do que a família. É nela que se forma o caráter. A família tem a responsabilidade de formar o caráter,

Minayo (1999) afirma que:

A família é uma organização social complexa, um microcosmo da sociedade, onde ao mesmo tempo se vivem as relações primárias e se constroem os processos identificatórios. É também um espaço em que se definem papéis sociais de gênero, cultura de classe e se reproduzem as bases de poder (p. 83)

É neste sentido que Mussen (1974 apud Fante e Pedra, 2008, p. 93) destaca que:

Se os pais permitem ou reforçam abertamente a agressão, é possível que as crianças se comportem agressivamente em casa e, por generalização, em outros lugares em que sintam ser a agressão permitida, esperada ou encorajada. A presença de um adulto permissivo favorece a expressão do comportamento agressivo.


Pereira (2009, p. 53) considera que a família ideal seria “aquela que predominasse o amor, o carinho, a afeição e o respeito. Mas nem sempre isso acontece. Nesses casos, muitas crianças e jovens se desvirtuam e passam a reproduzir o que aprendem com seus familiares”.


Os pais (famílias) precisam ter mais participação no ambiente escolar, que sejam próximos de seus filhos para abordarem e serem capazes de identificar esse processo de bullying. No tocante as alternativas de enfrentamento ao bullying escolar, Pereira (2009) que o primeiro passo é que a comunidade escolar tome consciência da existência e comece a buscar métodos para eliminá-lo. Guareschi e Silva (2008) relatam que uma das alternativas para o enfrentamento da violência ou do fenômeno bullying é a informação e a formação dos alunos para um despertar para a cidadania. Desse modo é preciso avançar neste propósito, pois não adianta a escolar propor terapia aos alunos vitimizados se não se dispõe também um programa de prevenção a este tipo de violência.

O papel da escola, da família e da comunidade, onde se inserem crianças e adolescentes, tem papel fundamental na contribuição da descoberta do sujeito, isso também se faz necessário para que se possa conhecer quem está ao seu lado, dessa forma compreendendo e respeitando as diferenças, atitudes e reações do outro (Fante e Pedra, 2008). Na escola, portanto,

É necessário valorizar os trabalhadores da educação, apoiar e incentivar a formação continuada, estimular práticas pedagógicas compromissadas com a desestruturação dos bloqueios culturais, promover a interdisciplinaridade, a consolidação dos direitos humanos e a transformação efetiva da sociedade e, no que tange à comunidade escolar, viabilizar o acesso a informações sobre a temática violência escolar e bullying, estimular o diálogo, o respeito à criança e o adolescente e aos seus direitos.

Nas afirmativas de Fante (2008, p. 02) “as ferramentas mais eficazes para ensinar regras de convivência saudável aos filhos são o afeto incondicional, o diálogo e as atividades educativas, como jogos esportivos, aulas de arte e ações solidárias”, ou seja, a família deve investir nas crianças e jovens valores de respeito ao próximo e não violência.

Texto de Aline Do Socorro Ramos Fortes
Psicóloga