Um Estado laico defende a liberdade religiosa a todos
os cidadãos, mas os relatos dos sacerdotes de religiões de matriz
africana no Pará mostram uma realidade bem diferente. Vítimas de racismo
religioso, muitos são ameaçados, hostilizados, segregados e mortos. Em
2016, foram sete casos, por isso, a Comissão de Direitos Humanos da
Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), presidida pelo deputado Carlos
Borbalo, levou ao auditório João Batista diversas autoridades e
representantes das religiões afro no Pará para cobrar do Estado
políticas públicas que combatam, efetivamente, a descriminação
religiosa.
Os relatos são muitos, Mameto Naguetu (Oneide Monteiro) disse que as ações preconceituosas acabam sendo minimizadas pelas autoridades policiais como brigas de vizinhos. “Policial bate no meu terreiro e me chama de marginal, e nós não somos, nós somos tão sacerdotes quanto um pastor e um padre, temos direito, vivemos em um país laico”, disse Naguetu, que é membro do Comitê Nacional de Respeito à Diversidade Religiosa.
Babá Obaitan (Luciano Teixeira) disse que não tem voz de verdade e quando há oportunidade como no encontro promovido nesta quinta-feira (19/01) pela Alepa, há uma esperança de que a voz da periferia seja ouvida. “A gente é tão oprimido que acaba não acreditando na lei. Precisamos encontrar soluções de políticas públicas. Em ônibus lotado, ninguém senta ao meu lado. A gente precisa encontrar amor no outro. Que estado laico é esse?”, questionou.
Assassinatos
Pelo menos sete líderes religiosos de matriz africana foram assassinados em 2016. Ivonildo dos Santos é um deles, ele foi morto com cinco tiros no Distrito de Icoaraci há cerca de quatro meses, sua viúva, Maiume Yá lorisa (Ogum Nadewa) disse que o marido era ameaçado todos os dias e que, diariamente, é questionada pelo filho de cinco anos se o assassino de seu pai já foi preso. “Eu sinto falta do meu marido. Por que não procuramos ajuda? Porque não acreditamos, agora querem tratar como assalto, mas não levaram nada”.
O deputado Carlos Bordalo informou que este e os outros seis casos serão monitorados pela Alepa, Ministério Público do Pará (MPE) e Defensoria Pública. O diretor de Polícia Especializada da Polícia Civil, delegado Silvio Maués, disse que apresentará à Comissão de Direitos Humanos um relatório com todos os inquéritos instaurados pela instituição sobre o assunto e disse que a violência atinge todo o país de forma generalizada. “Há um acirramento das questões religiosas, mas a realidade violenta é experimentada por todos nós. Temos cautela em relação à questão. Como agente público, temos que ter responsabilidade de atender o todo. Tentar fazer cessar qualquer tipo de violência e ameaça”, disse.
Encaminhamentos
O MPE, representado pela promotora de justiça Maria da Penha, informou que muito tem sido feito para combater a discriminação religiosa. “Quando falamos em mudar paradigmas é um processo longo e que o resultado não é imediato. Em 2016, junto às secretarias de educação, o MP interviu para que seja implementada a lei que propõe novas diretrizes curriculares para o estudo da história e cultura afro-brasileira nas escolas”, disse. Por meio de uma Ação Civil Pública,o MP pretende garantir a nomeação de todos os professores da educação religiosa.
O defensor público Johny Giffoni contou que não existia no Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado a atuação com a questão racial e que a instituição conseguiu analisar que a maioria das casas religiosas de matriz africana não possui o título da terra e que menos de 30% delas são pessoas jurídicas, o que garantiria algumas isenções de taxas em cartórios. Johny pediu apoio aos outros órgãos para que, juntos, possam garantir o acesso aos diretos.
A Polícia Militar, representada pelo major Guerra, informou que irá fazer um trabalho de conscientização dos praças com o objetivo de acabar com a ignorância cultural e religiosa.
O secretário de estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), Michel Durans, acredita que a educação seja o caminho mais adequado para a construção de uma nova realidade e apresentou seis medidas que serão adotadas pela secretaria. São elas: a posse do Conselho da Igualdade Racial no próximo dia 27 de janeiro; campanhas educativas envolvendo vários órgãos, atuando, prioritariamente, nas escolas; reforçar o projeto Direitos Humanos em Cena, que traz uma nova roupagem pra tratar os direitos humanos nas escolas; dar visibilidade a essas ações; acompanhar os casos de homicídios por meio da Coordenação de Direitos Violados; e adequar as políticas públicas para a realidade da sociedade.
Por fim, o deputado Carlos Bordalo falou sobre a elaboração de um guia de atendimento da rede de serviços de direitos, que será feito em conjunto com a Ordem dos Advogados do Brasil. Também informou que será elaborado um memorial para tratar das questões de habitação, isenção de diversos impostos e tributos a templos religiosos e segurança. A comissão de Direitos Humanos da Alepa se comprometeu em marcar uma reunião de avaliação e apresentar uma projeção de novos passos. “A nossa luta será sempre garantir os direitos de quem de fato tem direito”, finalizou Bordalo.
Os relatos são muitos, Mameto Naguetu (Oneide Monteiro) disse que as ações preconceituosas acabam sendo minimizadas pelas autoridades policiais como brigas de vizinhos. “Policial bate no meu terreiro e me chama de marginal, e nós não somos, nós somos tão sacerdotes quanto um pastor e um padre, temos direito, vivemos em um país laico”, disse Naguetu, que é membro do Comitê Nacional de Respeito à Diversidade Religiosa.
Babá Obaitan (Luciano Teixeira) disse que não tem voz de verdade e quando há oportunidade como no encontro promovido nesta quinta-feira (19/01) pela Alepa, há uma esperança de que a voz da periferia seja ouvida. “A gente é tão oprimido que acaba não acreditando na lei. Precisamos encontrar soluções de políticas públicas. Em ônibus lotado, ninguém senta ao meu lado. A gente precisa encontrar amor no outro. Que estado laico é esse?”, questionou.
Assassinatos
Pelo menos sete líderes religiosos de matriz africana foram assassinados em 2016. Ivonildo dos Santos é um deles, ele foi morto com cinco tiros no Distrito de Icoaraci há cerca de quatro meses, sua viúva, Maiume Yá lorisa (Ogum Nadewa) disse que o marido era ameaçado todos os dias e que, diariamente, é questionada pelo filho de cinco anos se o assassino de seu pai já foi preso. “Eu sinto falta do meu marido. Por que não procuramos ajuda? Porque não acreditamos, agora querem tratar como assalto, mas não levaram nada”.
O deputado Carlos Bordalo informou que este e os outros seis casos serão monitorados pela Alepa, Ministério Público do Pará (MPE) e Defensoria Pública. O diretor de Polícia Especializada da Polícia Civil, delegado Silvio Maués, disse que apresentará à Comissão de Direitos Humanos um relatório com todos os inquéritos instaurados pela instituição sobre o assunto e disse que a violência atinge todo o país de forma generalizada. “Há um acirramento das questões religiosas, mas a realidade violenta é experimentada por todos nós. Temos cautela em relação à questão. Como agente público, temos que ter responsabilidade de atender o todo. Tentar fazer cessar qualquer tipo de violência e ameaça”, disse.
Encaminhamentos
O MPE, representado pela promotora de justiça Maria da Penha, informou que muito tem sido feito para combater a discriminação religiosa. “Quando falamos em mudar paradigmas é um processo longo e que o resultado não é imediato. Em 2016, junto às secretarias de educação, o MP interviu para que seja implementada a lei que propõe novas diretrizes curriculares para o estudo da história e cultura afro-brasileira nas escolas”, disse. Por meio de uma Ação Civil Pública,o MP pretende garantir a nomeação de todos os professores da educação religiosa.
O defensor público Johny Giffoni contou que não existia no Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado a atuação com a questão racial e que a instituição conseguiu analisar que a maioria das casas religiosas de matriz africana não possui o título da terra e que menos de 30% delas são pessoas jurídicas, o que garantiria algumas isenções de taxas em cartórios. Johny pediu apoio aos outros órgãos para que, juntos, possam garantir o acesso aos diretos.
A Polícia Militar, representada pelo major Guerra, informou que irá fazer um trabalho de conscientização dos praças com o objetivo de acabar com a ignorância cultural e religiosa.
O secretário de estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), Michel Durans, acredita que a educação seja o caminho mais adequado para a construção de uma nova realidade e apresentou seis medidas que serão adotadas pela secretaria. São elas: a posse do Conselho da Igualdade Racial no próximo dia 27 de janeiro; campanhas educativas envolvendo vários órgãos, atuando, prioritariamente, nas escolas; reforçar o projeto Direitos Humanos em Cena, que traz uma nova roupagem pra tratar os direitos humanos nas escolas; dar visibilidade a essas ações; acompanhar os casos de homicídios por meio da Coordenação de Direitos Violados; e adequar as políticas públicas para a realidade da sociedade.
Por fim, o deputado Carlos Bordalo falou sobre a elaboração de um guia de atendimento da rede de serviços de direitos, que será feito em conjunto com a Ordem dos Advogados do Brasil. Também informou que será elaborado um memorial para tratar das questões de habitação, isenção de diversos impostos e tributos a templos religiosos e segurança. A comissão de Direitos Humanos da Alepa se comprometeu em marcar uma reunião de avaliação e apresentar uma projeção de novos passos. “A nossa luta será sempre garantir os direitos de quem de fato tem direito”, finalizou Bordalo.
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