Por Francisco Fernandes Ladeira em 03/02/2015 na edição 836 do Observatório da Imprensa
Os diferentes veículos midiáticos são importantes instrumentos para
difundir uma determinada agenda geopolítica em escala global. Nesse
sentindo, podemos afirmar que a atual “guerra ao terror” (eufemismo
utilizado para escamotear as intervenções estadunidenses em países
muçulmanos) não teria o mesmo êxito se não fosse a enorme propaganda
midiática realizada para demonizar os povos islâmicos. De acordo com os
intelectuais que trabalham com essa temática, os grandes conglomerados
de comunicação se utilizam da manipulação de imagens, do controle de
emoções e de um léxico propositalmente criado para rotular amigos e
inimigos de Washington como maneiras de induzir a opinião pública a
aceitar passivamente as políticas imperialistas da Casa Branca.
Segundo o linguista e ativista social Noam Chomsky, conceitos como
“terrorismo”, “retaliação”, “radical” e “moderado” são usados pela mídia
como termos de propaganda ideológica, e não para descrever a realidade.
Organizações árabes que rejeitam e não se curvam perante a política dos
Estados Unidos são tachadas de “radicais” ou “extremistas” e, em
contrapartida, os grupos que aceitam os ditames de Washington são
considerados “moderados”. Assim, é comum ouvirmos ou lermos nos grandes
meios de comunicação expressões como o “radical Hamas” e o “moderado
Fatah”. Não obstante, as intervenções israelenses na Palestina são
consideradas “ações preventivas” ou “retaliações” e a resistência dos
palestinos frente ao Estado sionista é tratada como “terrorismo”.
Por outro lado, categorias como “fundamentalismo”, “ódio ao Ocidente” e “antiamericanismo” são usadas como “armas de guerra” não somente contra os inimigos externos da Casa Branca, mas também para rotular os indivíduos que não compactuam com o discurso de Washington. Desse modo, como bem salientou o pensador italiano Domenico Losurdo, “quem não estiver com a América é automaticamente inimigo da paz e da civilização”. Por sua vez, a revista Veja utiliza-se constantemente de expressões como “barbudos”, “fanáticos islâmicos ensandecidos”, “sociedades dos turbantes”, “fascismo islâmico”, “universo de turbantes” e “loucos de Alá” para se referir aos povos islâmicos. Para a mídia hegemônica, ataques terroristas estão ligados exclusivamente aos indivíduos que seguem a religião fundada por Maomé. Dificilmente os grandes veículos de comunicação vão se referir às ações do IRA como “terrorismo católico” ou às atrocidades cometidas por Israel como “terrorismo judeu”.
Políticas de regulamentação
Já a manipulação de imagens é outra maneira de a mídia contribuir para a estigmatização dos muçulmanos. Como bem asseverou a historiadora Valdeli Collares, “a enxurrada de notícias e fotos de árabes divulgada pela imprensa apresenta massas enraivecidas ou miseráveis fazendo gestos irracionais e sempre retratando o amontoado de gente: nenhuma individualidade, nenhuma característica ou experiência pessoal”. Instigar emoções como tristeza, medo e indignação são poderosas ferramentas utilizadas pelas grandes cadeias de televisão para seduzir os telespectadores e direcioná-los para uma determinada linha de pensamento. Nesse sentido, as inúmeras matérias sensacionalistas que exibiam incessantemente as imagens dos aviões se chocando com o World Trade Center e pessoas desesperadas se jogando das torres gêmeas são exemplos desse artifício midiático.
Em suma, como se pôde inferir ao longo deste artigo, podemos afirmar que a grande imprensa capitalista não é imparcial, como muitos apregoam. Ela serve aos interesses daqueles que a financiam; das empresas que anunciam produtos em suas páginas e aos governos que garantem seu público. Se em regimes autoritários, como o nazismo e o stalinismo, o controle da população era exercido de forma direta e violenta, nas democracias burguesas esse controle é simbólico, por meio dos grandes veículos de comunicação. Diante desse contexto, não basta que um indivíduo se mantenha apenas informado; é imprescindível desenvolver capacidades críticas para processar e refletir sobre o que se lê e assiste na mídia. Sendo assim, é preciso que as autoridades competentes institucionalizem políticas de regulamentação da mídia, para que os diferentes setores sociais possam ter a oportunidade de defender os seus valores políticos e culturais. Ou seja, acabar com a vergonhosa concentração dos meios de comunicação de massa.
***
Francisco Fernandes Ladeira é especialista em Ciências Humanas: Brasil, Estado e Sociedade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e professor de Geografia em Barbacena, MG
Por outro lado, categorias como “fundamentalismo”, “ódio ao Ocidente” e “antiamericanismo” são usadas como “armas de guerra” não somente contra os inimigos externos da Casa Branca, mas também para rotular os indivíduos que não compactuam com o discurso de Washington. Desse modo, como bem salientou o pensador italiano Domenico Losurdo, “quem não estiver com a América é automaticamente inimigo da paz e da civilização”. Por sua vez, a revista Veja utiliza-se constantemente de expressões como “barbudos”, “fanáticos islâmicos ensandecidos”, “sociedades dos turbantes”, “fascismo islâmico”, “universo de turbantes” e “loucos de Alá” para se referir aos povos islâmicos. Para a mídia hegemônica, ataques terroristas estão ligados exclusivamente aos indivíduos que seguem a religião fundada por Maomé. Dificilmente os grandes veículos de comunicação vão se referir às ações do IRA como “terrorismo católico” ou às atrocidades cometidas por Israel como “terrorismo judeu”.
Políticas de regulamentação
Já a manipulação de imagens é outra maneira de a mídia contribuir para a estigmatização dos muçulmanos. Como bem asseverou a historiadora Valdeli Collares, “a enxurrada de notícias e fotos de árabes divulgada pela imprensa apresenta massas enraivecidas ou miseráveis fazendo gestos irracionais e sempre retratando o amontoado de gente: nenhuma individualidade, nenhuma característica ou experiência pessoal”. Instigar emoções como tristeza, medo e indignação são poderosas ferramentas utilizadas pelas grandes cadeias de televisão para seduzir os telespectadores e direcioná-los para uma determinada linha de pensamento. Nesse sentido, as inúmeras matérias sensacionalistas que exibiam incessantemente as imagens dos aviões se chocando com o World Trade Center e pessoas desesperadas se jogando das torres gêmeas são exemplos desse artifício midiático.
Em suma, como se pôde inferir ao longo deste artigo, podemos afirmar que a grande imprensa capitalista não é imparcial, como muitos apregoam. Ela serve aos interesses daqueles que a financiam; das empresas que anunciam produtos em suas páginas e aos governos que garantem seu público. Se em regimes autoritários, como o nazismo e o stalinismo, o controle da população era exercido de forma direta e violenta, nas democracias burguesas esse controle é simbólico, por meio dos grandes veículos de comunicação. Diante desse contexto, não basta que um indivíduo se mantenha apenas informado; é imprescindível desenvolver capacidades críticas para processar e refletir sobre o que se lê e assiste na mídia. Sendo assim, é preciso que as autoridades competentes institucionalizem políticas de regulamentação da mídia, para que os diferentes setores sociais possam ter a oportunidade de defender os seus valores políticos e culturais. Ou seja, acabar com a vergonhosa concentração dos meios de comunicação de massa.
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Francisco Fernandes Ladeira é especialista em Ciências Humanas: Brasil, Estado e Sociedade pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e professor de Geografia em Barbacena, MG
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