quinta-feira, 19 de setembro de 2019

CEDENPA E GEAM CONVIDAM PROFESSORES E PROFESSORAS PARA A RODA

Visita ao Terreiro Nangetu
A roda, o círculo, é lugar de igualdade, de se olhar de frente, um valor civilizatório das africanidades presente na roda de capoeira, na roda de samba, na gira do terreiro, na ciranda das crianças... 

O Grupo de Estudos Afro- Amazônicos (GEAM) da Universidade Federal do Pará (UFPA) e do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (CEDENPA) promoveram o Encontro Estadual de Professores do Pará: os desafios da educação étnico-racial, de 13 a 15 de setembro de 2019, em Belém. Desta forma, garantiram um espaço importante para (re)articulação de educadores e educadoras para a implementação da Lei 10.639, que institui o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas.
O encontro foi proposto como ação organizativa do “Projeto de Extensão Universitária Educação, Negritude e Resistência”, tendo como um dos objetivos criar uma Rede de Professores/as que trabalham a temática das relações Étnico-Raciais em distintos municípios paraenses.
No dia 13 de setembro, a conferência de abertura foi ministrada pelo Prof. Msc. Billy Malachias do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), que explanou sobre a importância de criação de conteúdos e materiais para a diversidade. Posteriormente, foi promovida a mesa-redonda intitulada "Cenários da educação para as relações étnico-raciais na Amazônia", composta pela Profa. Dra. Zélia Amador de Deus (UFPA e CEDENPA), Profa. Esp. Helena do Socorro Campos da Rocha (Núcleo de Estudos Afro-brasileiros - NEAB/IFPA) e Profa. Esp. Kátia Simone Alves de Araújo (Coordenadoria de Educação para a Promoção da Igualdade Racial - COIPIR/SEDUC), que apresentou experiências exitosas de projetos pedagógicos de combate ao racismo, enfatizando a importância da implementação da Lei 10.639/2003, que Alterou a LDB, tornando obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana, e que foi alterada pela Lei 11.645/2008, acrescentando a questão indígena. A mesa também apontou desafios para a implementação da legislação educacional antirracista, destacando-se: forte cultura racista presente no cotidiano das escolas e da sociedade, falta de interesse de gestores para a importância e emergência do tema e carência de qualificação de profissionais da educação para inserção de projetos na área.
Entre as oficinas optativas, a de "Educação, Africanidades e Novas Tecnologias", com o Prof. Guinê Ribeiro, abordou as estratégias de uso das tecnologias computacionais para a geração de articulação do movimento negro e de disseminação de valores civilizatórios africanos. E a oficina de "Religiões de Matrizes Africanas no contexto escolar", com o Prof. Msc. Rodrigo dos Santos, que ministra a disciplina Ensino Religioso na Rede Pública de Educação, elaborou um balanço do racismo religioso que persegue as religiões de matrizes africanas e apresentou propostas de como se trabalhar em sala de aula com respeito às religiões afro-brasileiras, garantindo os conhecimentos necessários para responder ao que pede a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

No dia 14 de setembro, o evento promoveu a mesa-redonda “As religiosidades de matrizes africanas na Amazônia”, oportunidade que o sacerdote Baba Edson Catendê e as sacerdotisas Mametu Nangetu Nzambe e Mametu Muagile expuseram as modalidades de expressões de suas crenças e fé, enfatizando que o universidade das religiões de matrizes africanas é muito diverso. O maior problema enfrentado é a persistência do racismo religioso e da demonização de seus cultos. Os debates desta mesa merecem ser destacados pelos pronunciamentos de muitos dos professores/as que revelaram que ainda não haviam percebido a importância de sua atuação para o enfrentamento da intolerância religiosa e pelo comprometimento assumido para a promoção da diversidade.
Em seguida, iniciaram-se as apresentações da mesa “Educação, Gênero e Diversidades” composta pela Profa. Dra. Dalva Santos, educadora popular Fátima Matos e Profa. Dra. Mônica Conrado. Nesta discussão, veio à tona a questão de o problema da segregação social no Brasil relaciona racismo e sexismo, que atinge negativamente as mulheres, afetando com mais gravidade as mulheres negras. A organização também promoveu vários "relatos de experiências no âmbito da educação para as relações étnico-raciais" por etapas e modalidades da Educação Básica.

No dia 15 de setembro, no encerramento, foi realizada visita técnica no Terreiro Mansu Nangetu - Mansubando Kekê Neta, espaço sagrado de manutenção e preservação das manifestações afro-religiosas de origem Bantu, na cidade de Belém, na Tv. Pirajá, 1194, bairro do Marco da Légua, em Belém. Em metodologia “roda de conversa”, foi apresentado como funciona um terreiro, os seus valores éticos abordados nos discursos e em reuniões, a prática do comunitarismo e a luta contra a permanente campanha de perseguição que sofrem das religiões majoritárias.
No final, o encontro estadual foi avaliado como muito positivo pelos/as participantes. Houve um compromisso de buscar ao máximo, em cada espaço de ação pedagógica, desenvolver atividades que contribuam para a visibilidade e implementação da Lei 10.639, não somente no dia da Consciência Negra (21 de Novembro). Também foi manifestada preocupação com a falta de nomeação da Coordenadoria de Educação para a Promoção da Igualdade Racial (COIPIR/SEDUC). Por fim, criou-se uma Frente de Professores/as Contra o Racismo.

Por: Profa. Giovana dos Anjos Ferreira Vilhena e Prof. Tony W. da Silva Vilhena

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