Os jogos olímpicos são um evento esportivo que expressa a pluralidade dos países e culturas numa demonstração de habilidade e competitividade para premiar os melhores em cada modalidade. As suas origens são de cunho religioso, pois datam do ano 776 a.C, em Olímpia, na Grécia, dentro das tradições mitológicas gregas, em atos devocionais a Zeus, entre outras divindades.
Com o atraso de um ano devido à pandemia do Corona Vírus, de 23 de julho a 08 de agosto e de 24 de agosto a 05 de setembro de 2021 tivemos, respectivamente, as Olimpíadas e Paralimpíadas de Tóquio. Entre conquistas e frustrações, destacamos aqui dois registros que tocaram na importância do respeito à diversidade religiosa, sobretudo, à valorização dos povos tradicionais de matrizes africana.
Flechas de Oxóssi
Primeiro, temos a comemoração do quarto gol brasileiro contra a Alemanha, em 22 de julho, que terminou com a vitória por 4x2. Após o chute certeiro, o autor do belíssimo gol, atacante Paulinho, correu eufórico pela lateral do campo e surpreendeu ao simular o lançamento de uma flecha, pose gestual do orixá Oxóssi, que é celebrado como divindade responsável pela caça, pelo alimento, pela fartura.
Nas vésperas das Olimpíadas, Paulinho já havia feito a declaração sobre o que ele chama de sua "filosofia de vida", na plataforma que publica textos de atletas "The Players' Tribune".
"Minha família tem ligação forte com o candomblé e a umbanda. Tenho muito orgulho da minha religião. Se bem que… Religião, não. Prefiro chamar de filosofia de vida. Cultuar essa filosofia me traz muita energia boa, muito axé. Como assentado e praticante, vou ao meu pai de santo sempre que estou no Brasil e peço proteção aos orixás, principalmente ao meu Pai Oxóssi e à minha Mãe Iemanjá. Exu é o caminho. Procuro saudá-lo antes de cada obrigação, de cada partida".
Suas palavras são poderosas. Romperam o silencio intimidador que o racismo impõe às pessoas praticantes de religiões de matrizes africanas, principalmente nos esportes, e deram visibilidade para a necessidade de se combater a intolerância religiosa. Após a seleção brasileira tornar-se medalha de ouro, Paulinho usou as redes sociais e fez a seguinte postagem: "Nunca foi sorte, sempre foi Exú!".
Contas de Iemanjá e Oxóssi
Wikipedia/RicardoGomesdeMendonça |
Ao subir ao pódio e receber sua medalha, Ricardo abre o agasalho para retirar seus colares ou fios de contas, juntando-os à medalha sob o peito. Uma imagem emocionante e inesquecível. Para afrorreligiosos/as, os fios de contas simbolizam a companhia do Orixá ou da Entidade que se devotam. O narrador do canal Sportv, percebendo o momento histórico daquele ato simbólico de resistência antirracista, tratou logo de contextualizar a realidade de preconceitos e perseguições sofridas pelas religiões de matrizes africanas, chegou a citar a frase "respeito seu amém, respeite meu axé!", em alusão a necessidade das religiões cristãs majoritárias observarem o direito das religiões de terreiro de serem respeitadas.
Ouro na luta contra a intolerância religiosa
Os gestos dos atletas Paulinho e Ricardo são importantes para a representatividade. Quantas crianças e jovens de terreiros puderam se ver neles, em diferentes cenários esportivos, num evento de importância internacional, expressando sua fé e sua visão de mundo. Marcaram estas Olimpíadas e o esporte brasileiro. Pois o esporte é estratégico para a abordagem de assuntos de interesse geral, entre eles o racismo, visto o seu alcance social e o sua capacidade de reunir as pessoas das mais diferentes formações e origens.
Por Tony Vilhena - Cientista Político.
POR UMA EDUCAÇÃO PARA O AMOR QUE, RESPEITE E TOLERE AS DIFERENÇAS
ResponderExcluirEsse respeito e essa tolerença as diferentes formas de manifestações regiosas e de visão de mundo são urgentes e necessárias e passam por uma forma de ver e educar que está intimamente ligada ao cuidado com a vida. Ao amar o próximo no próprio ato de vive e não somente no ato de pensar e falar.