quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Irmã Dorothy Stang e Irmã Doraci Edinger. O que essas duas mulheres religiosas tem em comum além da fé Cristã?

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O ano de 2014 é marcado pelo martírio de duas religiosas. No dia 12 de fevereiro de 2014 completou-se nove anos em que a irmã Dorothy Stang foi assassinada a 53 quilômetros da sede do município de Anapu, no Estado do Pará – Brasil. No Dia 21 de fevereiro de 2014 completa-se dez anos em que a irmã Doraci Edinger foi assassinada na cidade de Nampula, a 700 km ao norte de Maputo, capital de Moçambique, localizada a sudeste da África.

Ambas religiosas. Irmã Dorothy era uma missionária norte-americana pertencente à Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR). Em 1950 ingressou na vida casa religiosa, e no ano de 1956 fez seus votos perpétuos de pobreza, castidade e obediência.  A partir da década de setenta, Irmã Dorothy passou a atuar na Amazônia  junto aos trabalhadores rurais da Região do Xingu. Sua atividade pastoral e missionária buscava a geração de emprego e renda com projetos de reflorestamento em áreas degradadas, juntamente com trabalhadores rurais da área da rodovia Transamazônica, além disso, concentrou seu trabalho na minimização dos conflitos fundiários na região.
Irmã Doraci Edinger provinha da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Aos trinta anos de idade ingressou na Irmandade Irmã Sophie Zink – Casa Matriz de Diaconisas em São Leopoldo-RS, vinculada à IECLB.  Enquanto diaconisa, a irmã trabalhou como auxiliar de enfermagem no Rio Grande do Sul e mais tarde como promotora de saúde em Rondônia, Amazonas e Mato Grosso. No ano de 1998 aceitou o chamado para trabalhar em Moçambique, o qual foi o grande desafio de sua vida. Neste país africano a irmã Doraci trabalhou na área da saúde, educação e construção de comunidades. Determinada e organizada, ela era uma pessoa que acreditava no que fazia.
“Eles achavam que era um milagre”, escreveu ela sobre a reação do povo da região de Moma (interior do país) quando passou a ter água limpa para beber, tirada de poços artesianos, graças ao seu empenho. A irmã Doracia escreveu para colegas no Brasil: “Vocês não podem imaginar as dificuldades que passo nessas viagens e o risco de ser assaltada, mas sinto que Deus está comigo”. Em 1999, a irmã ganhou um carro, que passou a ser usado para o transporte de doentes. Em um relato, a irmã Doraci descreveu a região de Moma: “É uma região muito pobre e, em consequência das guerras, a safra agrícola é baixa. Mas o povo é muito amável e alegre, com uma força muito grande para aprender, um povo sedento pela Palavra de Deus”.
As irmãs Dorothy e Doraci possuem uma história de vida muito parecida. Ambas eram religiosas e ambas deixaram seu país de origem para viver o evangelho de Jesus Cristo juntamente com um povo oprimido pelas cadeias impostas pelo atual sistema econômico mundial chamado Capitalismo.
Mas além disso, existe algo muito mais profundo que as torna ainda mais ligadas. As duas irmãs, uma católica e outra luterana, são martirizadas por mãos que se lavam diante da sociedade, mas não diante de Deus. O sangue inocente delas derramado sobre a terra se junta ao de milhares de inocentes que injustamente foram martirizados por mãos ambiciosas. O sangue desses mártires se une ao sangue de Jesus Cristo, o qual purifica o ser humano de seus pecados e nos chama ao arrependimento.
O mártir das irmãs nos faz parar e pensar em quão bela a vida é, e ao mesmo tempo, em quão trágica ela pode se tornar ao se viver o evangelho de Jesus Cristo. Mas nós cristãos permanecemos na esperança de que assim como o Cristo martirizado ressuscitou no terceiro dia, também nós os que cremos ressuscitaremos junto à Deus em seu reino de graça e misericórdia onde o ser humano não mais viverá uma vida de opressão e perseguições. Também nossas irmãs martirizadas ressuscitarão no reino de Deus, certas das palavras proferidas por Jesus Cristo em Mateus 5.10: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus”.
É lamentável a forma brutal em que ambas morreram. Conforme procede nas informações, a irmã  Dorothy Stang foi assassinada, com seis tiros, um na cabeça e cinco ao redor do corpo, aos 73 anos de idade, no dia 12 de fevereiro de 2005, em uma estrada de terra de difícil acesso, a 53 quilômetros da sede do município de Anapu, no Estado do Pará. uma testemunha relatou que  antes de receber os disparos que lhe ceifaram a vida, ao ser indagada se estava armada, Ir. Dorothy afirmou: “eis a minha arma!” e mostrou a Bíblia. Leu ainda alguns trechos deste livro para aquele que logo em seguida lhe balearia. Nesse cenário hostil dos conflitos agrários no Brasil, o nome de Dorothy associa-se aos de tantas outras mulheres, crianças e homens, que morreram e ainda morrem sem ter seus direitos humanos respeitados.
A Irmã Doraci sabia que corria sério risco de ser morta. Entretanto, ela preferiu permanecer fiel às palavras de Jesus Cristo proferidas no sermão da montanha: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos” (Mt 5.6).
Em certa ocasião escreveu: “Agradeço a Deus por eu nunca procurar me defender, mas lutar para defender a causa de Jesus Cristo. Isso significa lutar por justiça; fazer tudo pelo bem do próximo; falar sempre a verdade mesmo, que isso traga sofrimento; ser honesta e responsável perante Deus e as pessoas. Minha vida está nas mãos de Deus”.
No ano de 2001, a irmã Doraci resolveu ficar em Moçambique por mais três anos: “Gostaria de permanecer por mais tempo. Por mais duro que seja não posso dizer “não’”. É ao povo sofrido desse país que ela deixou a sua vida, inscrevendo-se no livro dos mártires dos tempos atuais. A irmã Doraci foi assassinada em seu apartamento na cidade de Nampula. O corpo dela foi encontrado no dia 24 de fevereiro de 2004, provavelmente três dias depois de ter sido morta. O motivo do crime ainda não foi esclarecido, entretanto suspeita-se que ela tenha sido assassinada porque tinha algo a contar. “O assassino ou seu mandante sabia ou presumia que ela me revelaria algo grave, que, do seu ponto de vista, não deveria chegar a meu conhecimento em hipótese alguma”, declarou Walter Altmann, presidente da IECLB.
Fica registrada a gratidão da humanidade a essas duas mulheres que tiveram uma trajetória de vida semelhante, na qual lutavam por melhorias na vida de pessoas oprimidas. Fica também para nós o desafio de lutarmos pelos pequeninos que sofrem nas mãos ambiciosas do capitalismo que devasta tudo e a todos por onde passa.
“Não vou fugir e nem abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com dignidade sem devastar”. (Dorothy Stange)
Agradeço a Deus por eu nunca procurar me defender, mas lutar para defender a causa de Jesus Cristo. Isso significa lutar por justiça; fazer tudo pelo bem do próximo; falar sempre a verdade mesmo, que isso traga sofrimento; ser honesta e responsável perante Deus e as pessoas. Minha vida está nas mãos de Deus”. (Doraci Edinger).
Segue o link da Alocução proferida no Sepultamento da irmã Doraci Edinger:
“O assassinato da irmã e missionária Doraci Edinger constitui o episódio mais doloroso da vida da IECLB, mas sua atuação junto às comunidades pobres de Moçambique, as quais ela tanto amava, selada por sua morte, constitui também a página mais dignificante de toda a história da IECLB” (Trecho da prédica proferida no sepultamento da Irmã Doraci Edinger pelo então Pastor Presidente da IECLB Walter Altmann) http://www.luteranos.com.br/conteudo/alocucao-no-sepultamento-de-doraci-edinger.

Fonte: Teologia Livre 
   

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