segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Meio acadêmico deve mediar para superar conflitos

O meio acadêmico tem papel importante a cumprir na mediação de acordos para solucionar conflitos gerados por intolerância religiosa. Afirmação nesse sentido foi feita pelo Babalawo Ivanir dos Santos, Interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), na abertura do Congresso intitulado História, Expernêcias Religiosas e Democracia, realizado no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Advertiu Ivanir dos Santos que os grupos que pregam o ódio não são religiosos, e sim fascistas com objetivos políticos e econômicos que estão provocando conflitos até entre familiares. O Interlocutor da CCIR ressalva que a maior parte dos evangélicos não age de forma odiosa. Acrescentou que há risco para a liberdade de expressão e para todas as liberdades.  Ivanir dos Santos considera a situação como de retrocesso conservador.

O Procurador Jaime Mitropoulos comentou sobre os vídeos colocados na Internet e ofensivos a religiões de matriz africana. Ele disse que a lei determina que os meios de comunicação procurem preservar a harmonia. Frisou que em um estado laico o Poder Público cuida das garantias que as minorias tem direito. Na visão do Procurador a comunicação virtual não pode servir para atacar. Ele afirmou que o país é plural, mas existe o racismo e a intolerância religiosa, e às vezes eles se manifestam muito virulentamente. Lembrou que o Ministério Público esteve na casa de Mãe Conceição cinco ou seis vezes.
Andrei Soares, Diretor da Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República afirmou que a retórica de satanização preocupa. No entendimento de Soares as alianças entre milícias e grupos pentecostais são pontuais, mas preocupam. O Diretor também criticou o mau uso de redes eletrônicas e citou o caso de uma moça em Guarujá, que foi atacada e morta depois que informações indevidas a respeito dela foram postadas na Internet.
Revelou Soares que 36% das denúncias de intolerância atingem pessoas de religiões de matriz africana, enquanto 25% afetam evangélicos, 14% espíritas e 10% católicos. Disse também Soares que 20% da população acham que tem o direito de odiar. O Diretor da SDR considera necessário encontrar uma forma de solucionar esta fissura. Ele ressalta, porém, que não há solução simples.
O mediador da mesa, Professor André Chevitarese, da UFRJ diz que, no caso do ensino religioso, há um problema que vem desde o Governo FHC, quando começou a validação de diploma de ensino religioso.

Autoridades devem manter o equilíbrio
As autoridades devem agir para manter o equilíbrio no acesso aos meios de comunicação. A opinião é do Presidente da Associação acional de Mídia Afro (ANMA), Márcio de Jagun, na mesa de debate intitulada Mídia e Liberdade Religiosa, durante o congresso História, Experiências Religiosas e Democracia, realizado no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Lembrou o Presidente da ANMA que existem 11 emissoras concedidas para evangélicos, seis para católicos e três para suposta administração ecumênica. Os demais grupos em não dispõem de um meio de veiculação e o poder Público concedente deve possibilitar o acesso.
Criticou Márcio de Jagun o fato de que a mídia tem sido mal usada em relação á liberdade religiosa. Lembra que a mídia se autorregulamenta em vários aspectos, mas em termos de divulgação religiosa o mesmo não ocorre.
Observou Márcio de Jagun que a autoridadade precisa ser mais preparada e ser mais eficaz. Recordou que em São Paulo existe Delegacia para casos de intolerância religiosa, mas o mesmo não ocorre no Rio de Janeiro.
A Jornalista e Professora, Magali do Nascimento, da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) afirmou que há hegemonia católica e, em geral o catolicismo recebe tratamento positivo. Já as religiões de matriz africanas são mostradas como exotismo e como folclore.
Magali do Nascimento disse que nos meios de comunicação há problema de desinformação a respeito das religiões de matriz africana. Destacou que as mídias digitais abrem caminho para a construção de uma nova imagem para estas correntes religiosas.
Ao abordar a correlação entre política e religião a Professora lembrou que 30% das concessões de televisão estão em poder de parlamentares. Disse que tem aumentado a presença de parlamentares evangélicos nas comissões que tratam de concessões no Congresso Nacional.

O Poder Público erra
Existe desconhecimento a respeito da realidade afro-brasileira e isto abre a possibilidade de preconceito. O comentário foi feito por Ana Paula Miranda, Pesquisadora da Universidade Federal Fluminense (UFF), durante o congresso História, Experiências Religiosas e Democracia, realizado no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Acrescentou a Pesquisadora Ana Miranda que o Poder Público também erra. Citou o caso de um aluno da Fundação de Apoio ao Ensino Técnico (Faetec) que foi submetido em uma seleção ao critério de aparência pessoal naquela unidade de ensino por trajar paramentos de religião de matriz africana. Para a especialista o aluno e a sua família foram discriminados.
Para a Pesquisadora da UFF a agressão moral está embutida na violência que é praticada, e o ato de intolerância se manifesta pela ofensa moral. Conclui afirmando que a agressão afeta a pessoa atingida e a sua identidade.
Na mesma mesa de debates a Jornalista Tereza Cruvinel, da Rede TV, disse que alguns grupos religiosos procuram impor a sua visão e que um Estado laico deve dispor de meios para impedir isto, pois tem sido crescentes as manifestações de intolerância.
A Jornalista frisou ainda que os que são contrários ao laicismo do Estado são contra a democracia. Disse também que o Estado é laico para poder proteger as religiões e os religiosos que sofrem ataques. Tereza Cruvinel recordou que, na eleição de 2010, em alguns templos chegaram a ser distribuídos folhetos que apontavam a então candidata Dilma Roussef como aborteira. A Jornalista acredita que no atual processo eleitoral a situação deve piorar.
Para Tereza Cruvinel a própria mídia inclui tem responsabilidade pelo fato de temas como estes serem incluídos na agenda. Afirmou que isto é ruim para a sociedade e a própria mídia demonstra estar despreparada para o laicismo. Ela condena também a mídia por levar o público acreditar que nenhum partido presta. No caso específico das emissoras de televisão. A Jornalista destaca, em 60 anos d existência, a mídia sempre foi privada, ou seja, o Estado e a sociedade sempre ficaram alijados.
O professor Daniel Justi, da UFRJ, mediador mesa, assinalou que há um embate maior entre cristãos católicos e evangélicos. Para ele, assim como o Vaticano é um Estado, em algum momento os evangélicos poderão contar com o seu próprio Estado.

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