O meio acadêmico tem papel
importante a cumprir na mediação de acordos para solucionar conflitos
gerados por intolerância religiosa. Afirmação nesse sentido foi feita
pelo Babalawo Ivanir dos Santos, Interlocutor da Comissão de Combate à
Intolerância Religiosa (CCIR), na abertura do Congresso intitulado
História, Expernêcias Religiosas e Democracia, realizado no Instituto de
Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ).
Advertiu Ivanir dos Santos que os grupos
que pregam o ódio não são religiosos, e sim fascistas com objetivos
políticos e econômicos que estão provocando conflitos até entre
familiares. O Interlocutor da CCIR ressalva que a maior parte dos
evangélicos não age de forma odiosa. Acrescentou que há risco para a
liberdade de expressão e para todas as liberdades. Ivanir dos Santos
considera a situação como de retrocesso conservador.
O Procurador Jaime Mitropoulos comentou
sobre os vídeos colocados na Internet e ofensivos a religiões de matriz
africana. Ele disse que a lei determina que os meios de comunicação
procurem preservar a harmonia. Frisou que em um estado laico o Poder
Público cuida das garantias que as minorias tem direito. Na visão do
Procurador a comunicação virtual não pode servir para atacar. Ele
afirmou que o país é plural, mas existe o racismo e a intolerância
religiosa, e às vezes eles se manifestam muito virulentamente. Lembrou
que o Ministério Público esteve na casa de Mãe Conceição cinco ou seis
vezes.
Andrei Soares, Diretor da Secretaria de
Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República afirmou que a
retórica de satanização preocupa. No entendimento de Soares as alianças
entre milícias e grupos pentecostais são pontuais, mas preocupam. O
Diretor também criticou o mau uso de redes eletrônicas e citou o caso de
uma moça em Guarujá, que foi atacada e morta depois que informações
indevidas a respeito dela foram postadas na Internet.
Revelou Soares que 36% das denúncias de
intolerância atingem pessoas de religiões de matriz africana, enquanto
25% afetam evangélicos, 14% espíritas e 10% católicos. Disse também
Soares que 20% da população acham que tem o direito de odiar. O Diretor
da SDR considera necessário encontrar uma forma de solucionar esta
fissura. Ele ressalta, porém, que não há solução simples.
O mediador da mesa, Professor André
Chevitarese, da UFRJ diz que, no caso do ensino religioso, há um
problema que vem desde o Governo FHC, quando começou a validação de
diploma de ensino religioso.
Autoridades devem manter o equilíbrio
As autoridades devem agir para
manter o equilíbrio no acesso aos meios de comunicação. A opinião é do
Presidente da Associação acional de Mídia Afro (ANMA), Márcio de Jagun,
na mesa de debate intitulada Mídia e Liberdade Religiosa, durante o
congresso História, Experiências Religiosas e Democracia, realizado no
Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ). Lembrou o Presidente da ANMA que existem 11
emissoras concedidas para evangélicos, seis para católicos e três para
suposta administração ecumênica. Os demais grupos em não dispõem de um
meio de veiculação e o poder Público concedente deve possibilitar o
acesso.
Criticou Márcio de Jagun o fato de que a
mídia tem sido mal usada em relação á liberdade religiosa. Lembra que a
mídia se autorregulamenta em vários aspectos, mas em termos de
divulgação religiosa o mesmo não ocorre.
Observou Márcio de Jagun que a
autoridadade precisa ser mais preparada e ser mais eficaz. Recordou que
em São Paulo existe Delegacia para casos de intolerância religiosa, mas o
mesmo não ocorre no Rio de Janeiro.
A Jornalista e Professora, Magali do
Nascimento, da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) afirmou que
há hegemonia católica e, em geral o catolicismo recebe tratamento
positivo. Já as religiões de matriz africanas são mostradas como
exotismo e como folclore.
Magali do Nascimento disse que nos meios
de comunicação há problema de desinformação a respeito das religiões de
matriz africana. Destacou que as mídias digitais abrem caminho para a
construção de uma nova imagem para estas correntes religiosas.
Ao abordar a correlação entre política e
religião a Professora lembrou que 30% das concessões de televisão estão
em poder de parlamentares. Disse que tem aumentado a presença de
parlamentares evangélicos nas comissões que tratam de concessões no
Congresso Nacional.
O Poder Público erra
Existe desconhecimento a respeito da
realidade afro-brasileira e isto abre a possibilidade de preconceito. O
comentário foi feito por Ana Paula Miranda, Pesquisadora da
Universidade Federal Fluminense (UFF), durante o congresso História,
Experiências Religiosas e Democracia, realizado no Instituto de
Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ).
Acrescentou a Pesquisadora Ana Miranda
que o Poder Público também erra. Citou o caso de um aluno da Fundação de
Apoio ao Ensino Técnico (Faetec) que foi submetido em uma seleção ao
critério de aparência pessoal naquela unidade de ensino por trajar
paramentos de religião de matriz africana. Para a especialista o aluno e
a sua família foram discriminados.
Para a Pesquisadora da UFF a agressão
moral está embutida na violência que é praticada, e o ato de
intolerância se manifesta pela ofensa moral. Conclui afirmando que a
agressão afeta a pessoa atingida e a sua identidade.
Na mesma mesa de debates a Jornalista
Tereza Cruvinel, da Rede TV, disse que alguns grupos religiosos procuram
impor a sua visão e que um Estado laico deve dispor de meios para
impedir isto, pois tem sido crescentes as manifestações de intolerância.
A Jornalista frisou ainda que os que
são contrários ao laicismo do Estado são contra a democracia. Disse
também que o Estado é laico para poder proteger as religiões e os
religiosos que sofrem ataques. Tereza Cruvinel recordou que, na eleição
de 2010, em alguns templos chegaram a ser distribuídos folhetos que
apontavam a então candidata Dilma Roussef como aborteira. A Jornalista
acredita que no atual processo eleitoral a situação deve piorar.
Para Tereza Cruvinel a própria mídia
inclui tem responsabilidade pelo fato de temas como estes serem
incluídos na agenda. Afirmou que isto é ruim para a sociedade e a
própria mídia demonstra estar despreparada para o laicismo. Ela condena
também a mídia por levar o público acreditar que nenhum partido presta.
No caso específico das emissoras de televisão. A Jornalista destaca, em
60 anos d existência, a mídia sempre foi privada, ou seja, o Estado e a
sociedade sempre ficaram alijados.
O professor Daniel Justi, da UFRJ,
mediador mesa, assinalou que há um embate maior entre cristãos católicos
e evangélicos. Para ele, assim como o Vaticano é um Estado, em algum
momento os evangélicos poderão contar com o seu próprio Estado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário