sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Oficina de defesa contra o racismo religioso para povo de terreiro e entrevista com Mametu Nangetu


No dia 29 de fevereiro de 2020, a partir das 14h, no Instituto Nangetu - Belém/PA, o Movimento Atitude AFRO PARÁ promoverá a Oficina Estratégia de Defesa Contra o Racismo Religioso, que pretende reunir representações de povos tradicionais de matriz africana para o levantamento de formas de autoproteção contra a intolerância religiosa.

Para saber mais sobre o evento, o Instituto Ramagem conversou com a Mametu Nangetu, responsável pelo Mansubando Kekê Neta / Instituto Nangetu, espaço sagrado de manutenção e preservação das manifestações afrorreligiosas de origem Bantu que acolherá a atividade.

Mametu Nangetu é uma das fundadoras do Comitê Inter-religioso do Pará, que reúne diversas tradições e crenças para a promoção de diálogo e luta por direitos humanos. Também já foi Conselheira Nacional de Diversidade Religiosa do Ministério dos Direitos Humanos. Devido aos seus relevantes trabalhos sociais, Mametu Nangetu ganhou o prêmio Mulher Axé do Brasil, em março de 2019, na Bahia, em homenagem prestada pela Mulheres do Axé do Recôncavo Baiano, durante o I Encontro de Mulheres do Axé do Brasil.

Mametu Nangetu (Foto: Facebook - página pessoal)
Ramagem: Mametu, como foi pensada e proposta esta oficina de defesa contra o racismo religioso?
Mametu Nangetu: A importância dessa oficina é ensinar pra nós o que é racismo, o que é intolerância, o que é desrespeito. Muitas vezes o vizinho é intolerante e desrespeitoso e a gente vai dar parte, mas o delegado acha que é briga de vizinho. Muitos dos nossos não sabem do direito. Dar instrução mesmo. Instruir sobre a Carta Magna, Estatuto da Igualdade Racial e, também, trazer o Ministério Público para que o Ministério Público saiba o que é a intolerância religiosa que atinge as nossas casas. É pedra, é vizinho que briga com os nossos toques de tambor, etc.

Ramagem: O que a senhora considera possível fazer de prático para resistir como povo de terreiro e quais são as maiores dificuldades enfrentadas?
Mametu Nangetu: Nós  ainda temos muitas dificuldades. Por mais que a gente ande, ande, ande. Vá para o Ministério Público... sempre o Estado ganha ou um outro ganha. É difícil. Tá muito difícil.

Ramagem: O que a senhora gostaria de compartilhar como as maiores experiências que a senhora teve nestes anos no Comitê Inter-religioso do Pará e como integrante do Comitê Nacional de Combate à Intolerância Religiosa?
Mametu Nangetu: Toda a minha experiência com o Comitê local, e mesmo o Nacional... Lá no Nacional não se fez nenhuma política, por que não se tinha dinheiro e também interesse. Mas a amizade com as outras religiões e o respeito foi fundamental para se sentir fortalecida. Aqui em Belém, nem se fala, deste fortalecimento, dos parceiros, de amigos. Esse último ato que nós tivemos no dia 21 de janeiro [Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa] e foi dentro da Anglicana foi maravilhoso. Agente está dentro de uma igreja... e eu só não levei o tambor porque os meninos daqui estão envolvidos com o carnaval, mas estas possibilidades, esse respeito, esse carinho, esse ajô, ajô quer dizer axé ou ngunzus.

Ramagem: Como a sociedade em geral pode participar da luta contra a intolerância religiosa?
Mametu Nangetu: A sociedade tem que respeitar nosso querer, nosso direito de ter o Deus que a gente quer. Se a gente é feliz no espiritismo, a gente tem que respeitar; se a gente é feliz no catolicismo, no protestantismo, na Anglicana, Luterana, Presbiteriana, todas as outras, no Santo Daime, na Wicca, nos terreiros... Nós temos por obrigação conhecer e respeitar o outro. Que as intolerâncias também partem do desconhecimento. Que a gente é desrespeitado como ser humano. A gente é desrespeitado dentro do ônibus porque é como se fosse um "câncer" a gente ser de terreiro, se a gente vai vestido com as nossas contas, nossa roupa branca, ninguém quer sentar perto da gente. Então, fundamental é o respeito de um pelo outro.

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