quarta-feira, 15 de maio de 2019

Saudades de Arthur. Lutemos como ele!

Há um ano atrás, 15 de maio de 2018, por volta das 19h, participávamos de um carnaval diferente. A praça de folia era a portaria de uma capela mortuária na Av. Conselheiro Furtado, em Belém/PA. Sim, estávamos lá atendendo ao convite do entusiasta professor de arte e ativista político-cultural Arthur Leandro, também conhecido pelo seu nome afro-religioso de Tata Kinamboji, que em mais uma de suas surpresas partira pela manhã "de volta ao seio sagrado de Nzambi" (aprendi dizer isso naquele dia).
Entre batuques, palmas e canções, aquele antivelório expressava muito de quem foi e quem é, pois está conosco sempre, Arthur Leandro. Iconoclasta, irreverente e impactante. Um convite para o estranhamento daquilo tudo que parece habitual ou adequado nos padrões da sociedade branca-cristã-heteronormativa.
Ao lembrar que, anos antes, uma de suas intervenções artísticas foi publicar a notícia de sua morte no obituário de um grande jornal da cidade, denunciando, assim, que a imprensa não tem compromisso com a verdade e sim com o quanto recebe, revelo que ficou em mim uma expectativa de que aquilo tudo era mais um de seus atos poéticos e políticos. Imaginei ele postando depois freneticamente nas redes sociais algo assim "como podemos nos reunir em um velório, mesmo diante de nossa diversidade e agendas tão apertadas, e não conseguimos nos juntar pra ter mais força pra combater nossos inimigos comuns: os racistas, os fascistas e uma cambada de filha da puta que nos perseguem todos os dias...".
Passou um ano e sua audácia nos faz falta. Mas estamos aqui, Tata. São tempos absurdos, mas a luta segue. Seguem também conosco seus ensinamentos e destemor. 
Queria postar aqui uma foto tirada nas ladeiras do Pelourinho, em Salvador, durante o Fórum Social Mundial do ano passado, quando Giovana, eu e o Arthur nos encontramos. Ele ia zimbado na cadeira de rodas elétricas por aquelas ladeiras de pedras. Mas a foto perdeu-se nas "nuvens" deste céu louco digital. Mas, mantenho a homenagem com esta foto mais formal de um grande dia. O dia que fomos convidados para palestrarmos na criação da Comissão de Liberdade Religiosa da Assembleia Legislativa do Pará.


Por Tony Vilhena
Coordenador do Instituto Ramagem

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