(Foto: Wagner Almeida/Diário do Pará)
Um dos conceitos
mais democráticos de cultura é o da Sociologia, que a considera tudo
aquilo que resulta da criação humana. Assim, os conhecimentos
resultantes do convívio social são definidos como cultura, entre eles,
costumes e crenças. Pode-se inferir, então, que religião é cultura. E no
Dia Mundial da Religião, celebrado hoje, qual o legado da religião para
a cultura brasileira?
É impossível falar em história do Brasil sem
remeter àqueles que desembarcaram na colônia, trazidos em navios
negreiros. É deles a herança da capoeira. A luta era uma forma de
proteção contra os senhores do mato, quando os escravos empreendiam
fuga. Alguns senhores do engenho permitiam que a capoeira fosse
praticada em dias de festa, mas isso era minoria. A maior parte chegava
ainda a impor a religião cristã.
Como forma de preservar as crenças nos
orixás, os africanos e seus descendentes introduziram seus costumes aos
rituais católicos, por isso muitos santos católicos equivalem a
divindades de origem africana. Na culinária, destaque para a feijoada.
“A cultura é como um pano”, compara Manoel
Moraes, coordenador do mestrado em Ciências da Religião da Universidade
do Estado do Pará (Uepa). “A ideia de cultura e religião é muito íntima.
A cultura é um desses fios que formam o pano chamado cultura,
consagrado por normas e valores”, completa o professor.
A dimensão utópica de relacionamento de
expandir a sociedade, criar novas aberturas e a questão mística compõem a
cultura religiosa, que também é dinâmica e pode tanto emprestar e
formar identidade quanto agrupar. Foi o que aconteceu com as comunidades
eclesiais de base, que ajudaram no processo de emancipação. “Tem esse
papel libertador, do diálogo inter-religioso”, destaca o professor.
Religião e cultura são fios que se entrelaçam
As culturas indígenas contribuíram com as
relações de cultura de produção, de subsistência, quando não se produzia
para estocar e vender. Os povos de matriz africana, cuja identidade
étnica do passado consegue permanecer mesmo no século 21, colaboraram de
forma pontual para os costumes que temos hoje.
Em outubro, Belém para. As ruas são tomadas
por mais de dois milhões de fiéis, no segundo domingo do mês, para
homenagear Nossa Senhora de Nazaré. O Círio de Nazaré foi reconhecido no
ano passado como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial, como
manifestação valorizadora da identidade regional.
A justificativa da Unesco para a inscrição
do Círio de Nazaré na lista de patrimônios imateriais da humanidade é
que na festa “se misturam o religioso e o profano, refletindo, assim, o
caráter multicultural da sociedade brasileira”.
A Festividade do Grandioso São Sebastião no
Marajó é reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil. Assim, religião
e cultura se entrelaçam, como fios que se fundem para compor uma peça
de roupa.
Cultura religiosa tem público cativo
O mercado de músicas evangélicas cresce a
cada dia. Os artistas gospel começam a carreira ainda na infância,
cantando no coral das igrejas. Foi assim com Elvis Presley e Amy
Winehouse, ícones da música internacional. No Brasil, as músicas de
louvor alcançam o segundo lugar como gênero mais consumido no país,
segundo a Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD).
O médium Chico Xavier psicografou 468 livros
que retratam o espiritismo e vendeu mais de 50 milhões de exemplares.
Toda a renda foi doada para instituições de caridade.
Seja na literatura, música ou manifestações
de fé, a religião deixa sua contribuição para a cultura brasileira –
conceito este, que no senso comum tem duas vertentes: a cultura no
sentido mais elitizado e a cultura de massa, produto da indústria
cultural. Ficamos então com o conceito sociológico, que abrange as
diversas formas de cultura, não existindo cultura superior ou inferior.
(Diário do Pará)
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